SÃO PAULO (Reuters) – Em uma quarta-feira marcada por reações intensas do mercado, o dólar registrou uma alta significativa em relação ao real, alcançando a maior cotação de fechamento da história. Esse movimento expressivo foi impulsionado pela expectativa de que o governo lula inclua a isenção de Imposto de Renda para indivíduos que recebam até 5 mil reais por mês em seu novo pacote fiscal. Esse tipo de medida, que pode impactar a arrecadação tributária do brasil, foi interpretado de maneira negativa pelos investidores, que aguardavam ações focadas em cortes de despesas públicas.
Ao final do dia, a moeda americana foi negociada a 5,9141 reais, marcando um aumento de 1,80%. Este valor representa a maior cotação nominal de fechamento desde a introdução do real em julho de 1994, superando o recorde anterior de 5,9012 reais registrado em 13 de maio de 2020, durante o auge da pandemia de Covid-19. Com os acontecimentos recentes, o dólar já acumula uma alta expressiva de 21,9% em relação ao real em 2024, evidenciando a volatilidade e as incertezas que cercam a economia brasileira.
O movimento ascendente do dólar também se refletiu nas negociações futuras. Às 17h37, o contrato futuro de dólar para vencimento em dezembro, considerado o mais líquido no mercado brasileiro, apresentava uma alta de 1,85%, cotado a 5,9200 reais. A pressão sobre o dólar foi intensa ao longo de todo o dia, especialmente na expectativa de um pacote anunciado pelo governo com medidas de contenção de gastos.
No início da tarde, a confirmação de que a isenção do Imposto de Renda seria uma das propostas do pacote fiscal acirrou ainda mais as reações do mercado, levando a moeda americana a disparar. A informação, inicialmente divulgada por veículos de imprensa com base em fontes anônimas, foi posteriormente ratificada pelo ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho. Durante coletiva sobre dados de emprego, o ministro afirmou que o pacote abordaria a isenção de IR, assim como questões relacionadas à taxação de grandes fortunas e dos supersalários.
Essas declarações foram feitas antes do anúncio formal do pacote pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, previsto para as 20h30 e que também incluía uma reunião com líderes do Senado e da Câmara. Até aquele momento, a expectativa predominante era de que as medidas do governo se concentrassem em estratégias de contenção de gastos, conforme informações anteriores da equipe econômica. O desapontamento do mercado se deu pelo caráter da nova medida, que inicialmente poderia reduzir a arrecadação, levando a uma interpretação como uma estratégia imprudente por parte do governo.
“O mercado estava bastante ansioso por esse pacote. A expectativa era positiva até que a informação sobre a isenção chegou”, afirmou Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez. “Os investidores querem medidas concretas que realmente ajudem na redução de despesas”, completou. A incerteza e o impacto provocados por essa notícia resultaram em uma forte valorização do dólar, que chegou a atingir 5,9310 reais (+2,09%) por volta das 15h54, enquanto as taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) também registravam altas expressivas e a bolsa de valores (ibovespa) enfrentava quedas significativas.
Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, destacou que a inquietação do mercado resulta da busca por ações mais efetivas para o exercício de contenção de gastos, uma expectativa que se mostrava crescente. “O anúncio sobre a isenção foi um avesso ao que o mercado esperava e isso explica a rápida valorização do dólar para perto dos 5,90 reais. A urgência por medidas que limitem os gastos públicos é amplamente reconhecida entre os investidores”, comentou Freitas.
Curiosamente, enquanto o dólar se fortalecia na bolsa interna, a moeda americana apresentava um desempenho distinto no mercado internacional, onde registrava perdas em relação a outras divisas. Às 17h48, o índice que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas principais caía 0,72%, cotado a 106,070. Esse cenário ilustra a complexidade da economia global e como fatores locais, como as mudanças nas políticas fiscais e tributárias, podem afetar o valor das moedas e a confiança do mercado.