**A Importância da escrita na educação de Jovens e Adultos do Centro de educação da Asa Sul**
No Centro de educação de Jovens e Adultos (Cesas), localizado na 602 Sul, Brasília, a escrita se transformou em uma ferramenta essencial para o aprendizado dos alunos. O projeto “Diário de Ideias” permite que os estudantes capturem suas vivências e reflexões em cadernos personalizados, o que não só enriquece o processo educacional, mas também promove a troca de experiências valiosas. Essa abordagem inovadora fortalece a relação entre teoria e prática, fazendo com que cada aluno se sinta protagonista de sua própria trajetória.
Sob a coordenação da professora Lusinete Teixeira, o projeto adota uma metodologia lúdica e autoral, que estimula a criatividade e a reflexão pessoal. Lusinete destaca que “a iniciativa alia aprendizagem criativa a uma compreensão profunda, permitindo que os alunos construam seu conhecimento de maneira única”. As interações semanais que ocorrem nas aulas proporcionam um ambiente colaborativo, onde os participantes podem dialogar abertamente, transformando os escritos em um espaço rico de troca de saberes.
É importante ressaltar que a metodologia do “Diário de Ideias” foi inicialmente criada pela professora doutora Luciana Muniz, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), para o público infantil. Com a devida autorização da autora, Lusinete fez adaptações para atender às necessidades específicas dos alunos do Cesas, respeitando suas características geracionais e utilizando uma linguagem acessível e pertinente. A iniciativa se fundamenta na Teoria da Subjetividade, proposta por González Rey, que valoriza as dimensões pessoais que influenciam no aprendizado.
A proposta educacional é especialmente eficaz para jovens e adultos, uma vez que todos os participantes trazem consigo experiências e conhecimentos de vida. De acordo com Lusinete, “é fundamental que a escola e os professores aproveitem esse conhecimento prévio, trabalhando a partir dele para desenvolver um aprendizado formal e significativo”. Essa abordagem se alia aos objetivos da educação de Jovens e Adultos (EJA), que busca a inclusão social e a valorização das histórias de vida de cada estudante.
No Distrito Federal, a EJA se destaca como um importante avanço na inclusão educacional. Entre 2019 e 2024, foi registrado o ingresso de mais de 199 mil alunos nas turmas de EJA, com cerca de 20 mil estudantes atualmente matriculados em 101 unidades escolares administrativas que oferecem esse programa. Os dados mostram o compromisso da Secretaria de educação do Distrito Federal (SEEDF) com a alfabetização e a formação continuada, que garantem cada vez mais acesso à educação.
A diversidade é uma característica marcante da EJA e, para implementar o projeto “Diário de Ideias”, o Cesas organizou oficinas de expressão oral, meditação e história da escrita, além de aulas práticas de escrita criativa. O objetivo dessas atividades foi preparar os cerca de 80 participantes para uma expressão mais confiante e autoral. O artesão Marco Leite, de 43 anos, compartilha sua experiência: “Essas atividades me fizeram sentir à vontade para expor ideias, boas ou ruins, o que nos ajuda a aprender mais e a nos conectar uns com os outros”. Ele destaca a importância do aprendizado como um meio de fortalecer os laços entre os estudantes e promover uma comunidade educativa mais unida.
Outro exemplo significativo é a história de Mônica Pereira, uma estudante de 60 anos que utiliza seu diário para narrar sua trajetória de vida e aprendizado. “Voltei a estudar há oito anos. Sempre foi um sonho, mas devido a responsabilidades familiares, não pude antes. Escrever sobre minha história me ajuda a aprender e a construir conexões com meus colegas”, relata Mônica, uma cuidadora que encontrou na educação uma forma de expressar suas vivências.
No contexto da EJA, os dados são inspiradores. O DF apresenta um dos melhores índices de alfabetização do brasil, com 97,2% da população capaz de ler e escrever, apenas atrás de Santa Catarina, que tem 97,3%. Essa realidade positiva é fruto de uma série de iniciativas que buscam elevar os níveis educacionais, promovendo a inclusão e o desenvolvimento social.
Para Lilian Sena, diretora da EJA na Subsecretaria de educação Básica da SEEDF, o surgimento de projetos como o “Diário de Ideias” é uma estratégia para transformar a educação numa experiência dialógica e emancipatória. “Nossos professores possuem autonomia pedagógica para construir currículos que considerem o contexto e as necessidades dos estudantes ao retornarem à escola ou iniciarem seus estudos”, afirma. Essa liberdade educacional é vital para garantir uma aprendizagem significativa e integrada às realidades dos alunos.
O processo de aprendizado também impactou a haitiana Erline Jaccy, de 30 anos, que estuda atualmente no Cesas. Ela chegou ao brasil com o marido e três filhos, em busca de oportunidades e acredita que a educação é a chave para um futuro melhor. “Escrever e me alfabetizar aqui me permitirá conhecer melhor o país e as pessoas. Vejo isso como uma oportunidade de recomeçar”, comemora Erline, refletindo a esperança e determinação presentes na busca pela educação.