Desvios em Contratos: O Que Revelam os Áudios
Durante a operação Fames-19, que investiga irregularidades nos contratos do Tocantins para a compra de cestas básicas e frangos congelados, a Polícia Federal (PF) descobriu vários áudios no celular de um dos investigados. Esses registros mostram indícios claros de manobras fraudulentas por parte do grupo envolvido no suposto esquema. Em diálogos, Paulo César Lustosa, conhecido como PC Lustosa, e seu irmão, Wilton Rosa Pires, discutem estratégias referentes ao governo do estado do Tocantins, incluindo um alegado “esquema” dentro da administração estadual. PC Lustosa menciona explicitamente o governador Wanderlei Barbosa, atualmente afastado devido à operação.
Wanderlei Barbosa nega veementemente qualquer irregularidade e afirma não ter vínculos próximos com PC Lustosa, além de garantir que nunca autorizou ações em seu nome. Por sua vez, PC Lustosa também se defende, alegando que as conversas foram tiradas de seu contexto. Ele é contundente: “Cara, sai da mão do [Mauro] Carlesse, entra na mão do Wanderlei. Meu deus do céu, véi, cê não imagina o esquema que esses caras tão montando aí…”, revela em um dos diálogos. Ouça aqui.
Investigação e Consequências da Operação Fames-19
A operação Fames-19, que teve sua segunda fase deflagrada em 3 de setembro, levou ao afastamento do governador do Tocantins por seis meses. As investigações se concentram em supostas fraudes nas aquisições de cestas básicas e frangos congelados em meio à pandemia de covid-19. Os investigadores asseguram que os recursos desviados podem ter sido disfarçados em propriedades luxuosas, compra de gado e despesas pessoais. O montante envolvido nas transações suspeitas gira em torno de R$ 97 milhões, causando um prejuízo estimado de R$ 73 milhões aos cofres públicos.
Documentos em posse da PF revelam que, entre 2020 e 2021, os investigados teriam se beneficiado do estado de emergência em saúde pública para fraudar contratos de fornecimento. Além disso, o esquema também implicava o pagamento de propinas a membros do grupo, definidos como “bênçãos” nas mensagens trocadas, que indicam uma preferência por dinheiro em espécie para evitar rastreamento.
“Observou-se que todos os envolvidos preferiam pagamentos em dinheiro, comumente divididos em quantias abaixo de cinquenta mil reais, realizados em um mesmo dia. Essa prática, conhecida como smurfing, visa impedir a comunicação obrigatória de movimentações atípicas ao COAF”, detalha a decisão judicial sobre o caso.
Defesas e Respostas dos Envolvidos
A defesa do governador afastado, Wanderlei Barbosa, reitera sua inocência e se defende alegando que os áudios demonstram que os interlocutores reconhecem que ele não aceita subornos. “O Governador não teve, nem tem, qualquer envolvimento com contratos de aquisição de cestas básicas ou frangos congelados durante a pandemia”, esclarece a nota da defesa.
Quanto a PC Lustosa, seu advogado afirma que ele não possui relação com os supostos esquemas ilícitos e que as mensagens obtidas pela PF foram tiradas de contexto. “As partes da conversa apresentadas não refletem a realidade de forma completa”, argumenta. A defesa de Wilton Rosa Pires por sua vez, até o momento, não se manifestou sobre as alegações, pois ainda não teve acesso aos autos do processo.
No trâmite dessa investigação, a primeira-dama Karynne Sotero também se posicionou, esclarecendo que está separada de PC Lustosa desde 2017 e que não tem ligação com os eventos investigados. Ela considera injusto qualquer tipo de associação entre sua imagem e a de PC Lustosa.
O Futuro da Investigação
A operação Fames-19 segue sob sigilo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e a expectativa é de que novos desdobramentos ocorram à medida que as investigações avançam. A estrutura e os mecanismos utilizados para os supostos desvios ainda estão sendo apurados e a Polícia Federal promete continuar trabalhando para esclarecer todos os fatos e trazer os responsáveis à justiça.