Após os intensos debates realizados na última quinta-feira, o assunto das eleições municipais no brasil não sai da minha cabeça, e as palavras do ex-governador paulista André Franco Montoro ressoam fortemente: “É no município que as pessoas vivem, é no município que os problemas acontecem e é no município que as soluções devem ser encontradas.” Essa reflexão nos traz à tona um aspecto crítico – a forma como a população encara o processo eleitoral nas cidades. A cada ciclo eleitoral, o brasileiro parece ganhar um novo passatempo: escolher seu prefeito e vereador. No entanto, essa escolha, que deveria ser fundamentada em reflexões profundas sobre as necessidades e prioridades de cada município, frequentemente se transforma em algo superficial.
Na verdade, o processo é similar a uma festa de aniversário mal organizada: os convidados não sabem ao certo quem comparecerá e ao final muitos se vão com a sensação de que tudo poderia ter sido melhor. A seriedade com que encaramos as eleições municipais deveria ser comparável à importância que damos a rotinas diárias, como o café da manhã ou a escolha do time de futebol. Infelizmente, as eleições são tratadas como um evento qualquer, e a frase “tanto faz, pior não fica” poderia muito bem ser a frase emblemática na entrada de prefeituras por todo o país.
O que observamos nas campanhas eleitorais municipais é um verdadeiro espetáculo teatral. Os candidatos aparecem com promessas grandiosas, como se estivessem correndo para ganhar o Oscar das ideias mais mirabolantes. “Prometo construir um hospital em cada bairro!”, “Acabarei com os buracos nas ruas em seis meses!”, “Vamos levar internet sem fio aos parques!”, e assim por diante. E o eleitor? Reage como se estivesse assistindo a um desfile de carnaval, aplaudindo e vibrando com as propostas que mais agradam sem uma análise crítica de como essas promessas se desdobrarão na prática. Após a eleição, no entanto, quando a realidade se impõe, muitos se deparam com a frustração de perceber que, na verdade, voltam a enfrentar os mesmos problemas que existiam anteriormente: o trânsito caótico, as filas nos postos de saúde e a eterna pergunta que ecoa na mente de todos: “Por que eu votei nesse candidato?”
Na estrutura política, o prefeito se destaca como o protagonista dessa peça, enquanto o vereador desempenha um papel coadjuvante que, em muitas ocasiões, se transforma no verdadeiro “herói” da história. Os vereadores se apresentam como representantes do povo, mas na prática, muitos não passam de figuras que aparecem apenas quando necessitam de apoio. Além disso, é curioso notar que a população muitas vezes opta por eleger vereadores com perfis considerados “diferentões”: celebridades, influenciadores e ex-atletas que, por sua popularidade momentânea, se tornam os favoritos nas urnas. Essa escolha baseada em carisma, ao invés de competência, pode gerar grandes desilusões. O famoso “ele é gente boa, vou votar nele!” transforma a votação em uma mera questão de simpatia, ignorando a verdadeira eficácia que esses representantes devem ter na resolução dos problemas cotidianos da comunidade.
À medida que achaques se acumulam e os problemas da cidade se agravam, os eleitores frequentemente olham para trás e se lembram da frase de Montoro com uma lucidez rara. Percebem que, na verdade, a falta de atenção na hora do voto pode resultar em consequências sérias e duradouras. Nesta hora, muitos se perguntam se as soluções para as dificuldades cotidianas poderiam ter sido encontradas com uma escolha mais criteriosa.
O ciclo das eleições municipais no brasil evidencia uma realidade preocupante: os eleitores abordam o processo com uma atitude lúdica e despreocupada, mas a verdade é que o centro dos problemas e das soluções reside em suas próprias comunidades. O momento da escolha é fundamental, pois de fato, o que acontece na cidade pode afetar diretamente o dia a dia de cada um. Infelizmente, ao final de cada mandato, muitos se deparam com a crua realidade de que o quintal ficou cheio de buracos, problemas acumulados, e a sensação de que, novamente, o processo eleitoral poderia ter sido tratado com mais seriedade.
Dessa forma, a questão central permanece: como podemos transformar o voto em uma ferramenta eficaz de mudança positiva nas cidades? É imperativo que os cidadãos compreendam que as eleições municipais são um reflexo das suas escolhas e que a participação consciente e informada é essencial para construir um futuro melhor para todos. Portanto, é fundamental que o espírito crítico e a responsabilidade social sejam cultivados, para que a cada nova eleição, os cidadãos realmente saibam escolher os líderes que levarão suas cidades a um futuro mais próspero e igualitário. E assim, o Capeta, em seu papel de espectador crítico, nos observa e nos provoca a uma reflexão que pode mudar o rumo da política municipal no país.