A Procuradoria-Geral da República (PGR) está conduzindo uma investigação sobre o deputado federal Antônio Doido, do MDB do Pará, em relação a uma suspeita de “operação ilícita” que envolveu policiais militares. O foco da apuração é um suposto esquema que beneficiou um irmão do deputado, que concorria ao cargo de prefeito na cidade de Ourém, no estado do Pará, durante as eleições de 2024. Essa investigação foi impulsionada por eventos que ocorreram no período eleitoral, levando a PGR a solicitar um inquérito formal contra o parlamentar.
Recentemente, dois aliados de Antônio Doido, um policial militar e um assessor, foram detidos após realizarem saques de valores exorbitantes, sugerindo uma possível conexão com desvios de verbas públicas. O PM Francisco de Assis Galhardo do Vale, que foi preso em 4 de outubro de 2024 ao sacar a quantia de R$ 5 milhões, é considerado pela PGR como uma figura central no esquema, acusado de coordenar o núcleo operacional que teria facilitado essa operação ilegal.
Entre março de 2023 e outubro de 2024, Galhardo teria realizado 15 saques que totalizam a impressionante quantia de R$ 48,8 milhões. Destes, R$ 26 milhões foram sacados apenas entre junho e outubro de 2024, coincidindo com a época da campanha eleitoral. A PGR levantou sérias preocupações sobre a integridade do processo eleitoral, indicando que a ação de Galhardo e sua equipe poderia ter comprometido a lisura do pleito, principalmente através de financiamento irregular de campanhas e manipulação de agentes públicos.
O pedido de investigação da PGR revela que a estratégia de Galhardo incluía o deslocamento de policiais para áreas rurais em horários noturnos, atividades que não se alinhavam com as funções institucionais da corporação. A apuração também destaca a remoção de militares de suas escalas de serviço para atender a essa demanda, indicando um possível uso indevido da estrutura policial em prol da candidatura de seu irmão. O deputado Antônio Doido, que acabou perdendo a disputa ao obter 46% dos votos contra 53% de seu adversário, é acusado de instrumentalizar a máquina pública para favorecer sua campanha.
Em diálogos interceptados, ficou claro que a operação em Ourém foi uma solicitação direta do deputado. Um áudio revela que Galhardo exigiu a presença de, no mínimo, vinte policiais na cidade durante a semana das eleições. A comunicação entre os envolvidos sugere um planejamento meticuloso para garantir que a operação fosse realizada de acordo com os interesses eleitorais de Antônio Doido, com um PM reclamando da falta de comprometimento dos policiais escalados para a ação.
Além disso, a PGR destaca que a natureza e a execução das operações podem caracterizar crimes contra a administração militar. Os envolvidos podem ter violado normas militares ao manipular escalas de serviço para facilitar atividades ilegais, utilizando recursos da corporação em ações criminosas. A investigação ainda aponta que a utilização de estratégias de contrainteligência e dispositivos para ampliação do sinal telefônico indicam um caráter potencialmente ilícito nas ações.
A Polícia Militar do Pará, ciente das alegações, instaurou um processo administrativo para investigar as denúncias. Em resposta, a PM reafirmou seu compromisso com a ética e a legalidade, garantindo que todas as medidas necessárias estão sendo tomadas para investigar os fatos e responsabilizar os envolvidos.
A defesa do deputado Antônio Doido emitiu uma nota repudiando o vazamento de informações confidenciais relacionadas às investigações em curso, afirmando que todos os questionamentos são baseados em especulações e já foram esclarecidos nos registros oficiais. O deputado se colocou à disposição das autoridades para prestar os devidos esclarecimentos e expressou confiança em relação à legalidade de suas ações durante seu mandato parlamentar.
Com o desenrolar da investigação, a PGR segue apurando os fatos e reunindo evidências que possam corroborar as acusações, enquanto a sociedade aguarda um desfecho que esclareça a real extensão das ações de Antônio Doido e seus associados.