Com o crescente foco nas mudanças climáticas e nas crises ambientais, a demanda por cursos de sobrevivência tem se intensificado, atingindo um público diversificado. Esse fenômeno, conhecido como sobrevivencialismo, abrange não apenas indivíduos solitários, mas cada vez mais famílias inteiras, mulheres e crianças, que buscam aprender estratégias para enfrentar adversidades. Os instrutores dessas formações oferecem ensinamentos práticos e teóricos que capacitam os alunos a lidar com situações desafiadoras, promovendo uma verdadeira reintegração com a natureza e com habilidades essenciais de sobrevivência.

Recentemente, o brasil tem sido assolado por imensas nuvens de fumaça decorrentes de incêndios florestais, que impactaram a qualidade do ar e a saúde de muitos cidadãos, especialmente nas áreas mais afetadas. Moradores de cidades que enfrentam esses incêndios têm relatado desconforto, dificuldades respiratórias e a impossibilidade de realizar atividades simples ao ar livre, afetando sua qualidade de vida. Paralelamente, as enchentes devastadoras que ocorreram no Rio Grande do Sul entre abril e maio deixaram um saldo alarmante de destruição, resultando em uma necessidade urgente de abrigo, água potável e eletricidade. Essa realidade tem levado muitas pessoas a buscarem informações sobre como sobreviver a essas crises naturais.

O Coronel Marcelo Montibeller Borges, presidente da Confederação Sul-Americana de Sobrevivência e Preparação e responsável pela escola de sobrevivência Via Radical brasil, observa uma alteração significativa no perfil dos alunos. Os participantes são agora mais diversos, refletindo a necessidade emergente de aprendizado em estratégias de sobrevivência. Segundo Montibeller, o aumento da população mundial e a escassez de recursos naturais têm intensificado esse interesse. “As pessoas passaram a se preocupar mais com a segurança e a sobrevivência de suas famílias, especialmente diante dos eventos climáticos extremos que enfrentamos”, explica.

Montibeller observa uma tendência crescente entre os alunos que desejam se desconectar da vida urbana e explorar a natureza, ao mesmo tempo em que reconhecem os riscos envolvidos. A linha entre lazer e sobrevivência é tênue; um pequeno descuido durante atividades ao ar livre pode transformar uma experiência prazerosa em um cenário de perigo. Para ele, essa preparação é fundamental especialmente em tempos incertos.

O diretor da Escola de Sobrevivência Força Sempre, Itamar Charlie, complementa que a busca por cursos de sobrevivência aumentou devido a experiências traumáticas relacionadas a desastres naturais, como enchentes e incêndios. “Estamos percebendo um aumento na quantidade de pessoas interessadas em adquirir conhecimentos sobre sobrevivência, especialmente aquelas que enfrentaram situações adversas diretamente”, comenta Itamar. A crescente frustração e a realidade enfrentadas por muitos têm alimentado essa procura, refletindo um claro desejo de empoderamento e autonomia.

Itamar também ressalta que a crescente demanda por cursos de sobrevivência está aumentando gradativamente. O foco do treinamento abrange diversos biomas do brasil, preparando os alunos para a impredicibilidade do futuro. “Todos nós vivemos uma realidade em constante transformação, e preparar-se para o amanhã é mais importante do que nunca. Estamos vivendo tempos em que a sobrevivência se tornou uma prioridade”, afirma.

Durante as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, por exemplo, formou-se uma equipe de voluntários composta por alunos dos cursos para ajudar nas áreas mais afetadas, como Roca Sales e Porto Alegre. As aulas de sobrevivência incluem técnicas que colocam os alunos em circunstâncias adversas, testando suas habilidades em situações reais de sobrevivência.

Cursos como o oferecido pela Via Radical brasil têm atraído pessoas em busca de reestruturar suas vidas após desastres naturais. O instrutor Istvan Pal Orszagh menciona que a situação crítica de muitas famílias durante as enchentes evidenciou a necessidade de um preparo adequado. “As pessoas se conscientizaram de que a preparação para desastres deve ser uma prioridade em nossas vidas”, afirma Orszagh, ressaltando também que muitos se inscrevem nas aulas para agregar conhecimento, diversão ou apenas para quebrar a rotina.

Os cursos não são apenas para entusiastas da vida selvagem; muitos profissionais que atuam em áreas como segurança pública e emergências também buscam essas formações para aprimorar suas habilidades. Maykel Dias, socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no Rio Grande do Sul, reforça a importância do aprendizado de técnicas de sobrevivência, especialmente considerando o aumento da frequência de eventos climáticos extremos. “Estar preparado não é apenas uma questão de sobrevivência pessoal, mas também uma maneira de preservar a vida de outras pessoas”, conclui.

Diante da realidade cada vez mais instável do mundo natural, os cursos de sobrevivência se apresentam como uma ferramenta essencial para aqueles que buscam não só entender a dinâmica da natureza, mas também se preparar para qualquer eventualidade que o futuro possa reservar.

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