O cenário do empreendedorismo no brasil está em franca expansão, conforme destaca a nova edição do relatório “Empreendedorismo no brasil 2023″. Este documento foi apresentado em uma live organizada pelo Sebrae e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe) na última quarta-feira, dia 11. O estudo, que se apoia nos dados da pesquisa Monitoramento Global do Empreendedorismo (GEM) de 2022, oferece uma visão abrangente sobre as práticas empreendedoras no país e revela que cerca de 48 milhões de brasileiros alimentam o sonho de abrir o próprio negócio.
Caso esse desejo se transforme em realidade, prevê-se que o brasil poderá dobrar o número de empreendedores em um período entre três e cinco anos. Tal crescimento traria um impacto significativo tanto do ponto de vista econômico quanto social para a nação. O economista de Gestão Estratégica do Sebrae, Marco Aurélio Bedê, comenta que o empreendedorismo é uma “grande chave para o crescimento”. Ele explica que a transformação de pessoas aspirantes a empreendedoras em empresárias de fato poderia promover uma inclusão social sem precedentes, permitindo que aqueles que atualmente estão em situação financeira precarizada melhorem sua renda.
De acordo com Bedê, essa inclusão social se estenderia a pessoas com menor escolaridade, mulheres, jovens e pessoas negras e pardas, grupos que frequentemente enfrentam barreiras significativas de acesso a oportunidades. Ele ressalta que o empreendedorismo pode ser um meio eficaz de construção de autoestima e de progresso, proporcionando não apenas uma fonte de rendimento, mas também dignidade e respeito pessoal. “Seja em salões de beleza, startups ou barbearias, esses empreendedores cultivam a criatividade e desenvolvem processos que estimulam nossa economia”, acrescenta.
O presidente do Sebrae, Décio Lima, também enfatiza o papel deste órgão em apoiar esses novos empresários em sua jornada. A estatística apresentada por Simara Greco, coordenadora da pesquisa GEM brasil, há 23 anos, indica que a atividade empreendedora se reflete de maneira particular nas famílias de baixa renda. Segundo ela, pessoas que provêm de contextos de menor escolaridade tendem a empreender menos, frequentemente por necessidade e em setores informais, o que limita a geração de empregos e inovações.
As estatísticas sugere que essa população, muitas vezes marginalizada nas atividades econômicas convencionais, representa um setor com grandes possibilidades de inclusão social. O estudo indica que aproximadamente 70% das pessoas de baixa renda têm potencial para empreender, com 55% de mulheres, 50% de jovens e 63% da população preta e parda. Entretanto, para que essa oportunidade de inclusão social se concretize, é necessário investir em capacitação e em programas direcionados.
O empreendedor social Bruno Kesseler, presidente da Central Única das Favelas do Distrito Federal (CUFA-DF), destaca que é essencial entender profundamente a realidade das favelas para implementar estratégias assertivas que promovam o sucesso dos empreendimentos nessas comunidades. Ele salienta que, conforme a pesquisa da Data Favela, se as favelas do brasil fossem consideradas um só estado, figurariam como o terceiro mais populoso do país, enfatizando a importância deste mercado que movimenta cerca de R$ 200 bilhões anualmente.
Dentro desse contexto, a formalização é um desafio persitente. Dos 5,2 milhões de empreendedores nas favelas brasileiras, apenas 37% estão formalmente registrados, o que indica a necessidade urgente de acesso à informação sobre formalização empresarial. A colaboração entre instituições e o fortalecimento de redes podem ajudar a superar essa dificuldade.
José Alberto Sampaio Aranha, coordenador do Parque de Inovação social Tecnológica e Ambiental (Pista) na Rocinha, favela do rio de janeiro, ilustra uma tendência positiva. Ele revela que a nova geração de moradores não quer apenas sair da favela, mas estabelecer raízes e implementar mudanças. A iniciativa visa descobrir os planos de vida desses indivíduos e capacitá-los para que se tornem empreendedores. O governo do rio de janeiro planeja expandir os princípios do projeto para outras favelas, como a Maré e a Alemão, criando um movimento que integra tecnologia e capacitação.
Outro dado relevante é a recuperação do empreendedorismo por oportunidade pós-pandemia. Dos novos empreendimentos em 2023, 61,4% surgiram em resposta a oportunidades de mercado, um aumento significativo em relação a 2020, quando 49,6% foram formados por necessidade imposta pela crise. A tendência é que este percentual continue a aumentar, com projeções de que até 70% dos novos negócios sejam motivados por oportunidades, impulsionados pela recuperação econômica e pela melhoria das condições de emprego e inflação.
Este cenário apontado no estudo evidencia não apenas a resiliência dos brasileiros, mas também a necessidade de apoio estruturado para que cada vez mais pessoas possam transformar seus sonhos empreendedores em realidade.