A trajetória de Francisco Pereira, um pedreiro de 35 anos, residente em Samambaia, foi intensamente marcada por episódios de violência doméstica, que não apenas afetaram sua infância, mas também moldaram sua percepção sobre o tema. Ele reflete sobre os avanços recentes na conscientização acerca da proteção das mulheres. Segundo ele, “Estamos em uma nova era, onde a necessidade de proteger as mulheres é mais reconhecida. Contudo, muitos homens ainda precisam compreender essa realidade e reformular suas atitudes. Por isso, é essencial disseminar a importância do respeito entre o maior número possível de homens.”
Francisco é um dos 994 participantes das palestras promovidas pelo projeto “Conversa com Eles”, que aconteceu ao longo de 2024 em vários canteiros de obras do Distrito Federal. Esse projeto é uma parceria entre a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF), o Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-DF). O principal objetivo dessa iniciativa é fomentar o diálogo com trabalhadores da construção civil e conscientizá-los sobre a urgentíssima necessidade de erradicar a violência contra as mulheres.
Ao todo, ocorreram oito eventos entre abril, mês em que o projeto foi criado, até dezembro, com uma média de 120 pessoas em cada sessão. As palestras alcançaram diversas localidades, incluindo Planaltina, Águas Claras, Noroeste, Asa Sul, Asa Norte e Samambaia, evidenciando o compromisso de levar essa discussão sobre prevenção da violência a diferentes comunidades.
A secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani, que participou ativamente dos encontros, destacou que “Conversa com Eles” representa uma contínua努力 da Sejus para romper com o ciclo de violência que atinge as mulheres. “Neste ano, já estamos planejando intensificar essas atividades, pois é fundamental manter e ampliar o diálogo com os homens sobre essa questão”, enfatizou Passamani.
Mudanças transformadoras
Durante as palestras, os membros da Subsecretaria de Apoio a Vítimas de Violência (Subav) apresentaram situações cotidianas que muitas vezes passam despercebidas, incluindo expressões populares, comportamentos comuns e até letras de músicas que perpetuam uma visão distorcida da mulher. Por meio de recursos didáticos, como vídeos e discussões interativas, os especialistas convidaram os participantes a refletir sobre a diversidade das manifestações de violência, que não afetam apenas as mulheres, mas que repercutem em toda a sociedade.
O bombeiro hidráulico Adão Manoel de Araújo, de 34 anos, que participou de uma das palestras no Noroeste, compartilhou sua experiência dizendo que é habitual ouvir comentários pejorativos no ambiente de trabalho. No entanto, após a palestra, ele começou a reconsiderar esses comentários e suas consequências. “No canteiro de obras, muitos acreditam que essas palavras não têm peso, mas agora estamos todos nos questionando: como nos sentiríamos se essas mesmas expressões fossem dirigidas a nossas filhas ou esposas?”, comentou Adão.
Esse sentimento de reflexão também foi sentido por Balbino Neves, um mestre de obras de 60 anos, que participou de uma palestra em Samambaia. Ele expressou sua gratidão pela informação recebida e sua intenção de compartilhar o conhecimento com sua família e amigos. “As lições desta palestra são valiosas e não podemos permitir mais violência contra as mulheres!”, enfatizou Balbino.
A iniciativa “Conversa com Eles” integra o programa “Direito Delas”, desenvolvido pela Sejus para apoiar mulheres que vivem situações de violência, além de oferecer suporte a suas famílias, incluindo crianças e adolescentes vítimas de abuso e violência. Este programa presta atendimento social, psicológico e jurídico, evidenciando um compromisso institucional em atender a essas populações vulneráveis.
Desde seu lançamento em novembro de 2023, o programa “Direito Delas” já alcançou mais de oito mil atendimentos, distribuídos por onze núcleos localizados em regiões como plano piloto, Ceilândia, Guará, Itapoã, Paranoá, São Sebastião, Planaltina, Recanto das Emas, Samambaia, estrutural e Gama, ressaltando a importância da acessibilidade e do suporte a essas vítimas.
*Informações fornecidas pela Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF).