Conflitos e Provocações na USP
A Universidade de São Paulo (USP) tem enfrentado tumultos frequentes durante a visita de grupos conservadores à sua Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Nos últimos meses, a situação se intensificou, culminando em um episódio de violência no dia 5 de setembro, quando um estudante alegou ter sido mordido e um professor convidado foi agredido. Essas confusões geralmente acontecem quando grupos de direita tentam gravar vídeos para as redes sociais, em um padrão de provocações que se repete.
O diretor da FFLCH, Adrián Pablo Fanjul, afirmou que a USP tomou a decisão de agir judicialmente contra alguns dos responsáveis por esses incidentes. Ele descreve um modus operandi desses grupos: provocar estudantes para registrar reações, criando conteúdo que poderia ser editado nas redes sociais. “A universidade não opera no ritmo do TikTok”, diz ele, referindo-se à rápida e muitas vezes agressiva forma de diálogo promovida por esses grupos.
A Visão do Diretor sobre o Debate Universitário
Em uma entrevista ao Metrópoles, Fanjul explicou que a USP é um espaço de debate, mas não nas condições caóticas que esses grupos impõem. “Uma aula universitária não pode se transformar em um vídeo rápido e ruidoso, onde todos gritam”, defendeu. Ele ressaltou que o espaço acadêmico deve priorizar discussões fundamentadas e respeitosas, longe da estética de provocação nas redes sociais.
Desde o início de maio, a FFLCH registrou pelo menos oito incursões desse tipo, algumas lideradas pelo vereador Lucas Pavanato (PL), enquanto outras foram realizadas por grupos menos conhecidos, mas com vínculos com políticos estaduais. “Os visitantes têm buscado provocar os estudantes e gravar tudo sem consentimento”, explicou o diretor, enfatizando que a maioria deles não é reconhecida publicamente.
Estratégias de Provocação e Respostas Institucionais
Os métodos usados pelos grupos variam, incluindo cartazes provocativos e a remoção de faixas de coletivos estudantis. “É contraditório que gritem que a política não deve estar presente na universidade, enquanto se posicionam politicamente com camisetas de grupos de extrema direita”, destacou Fanjul. A reação da universidade tem sido rápida. Após os primeiros incidentes, um comunicado foi enviado a todos os membros da faculdade, seguido por orientações sobre a melhor forma de lidar com as provocações.
Fanjul também mencionou que, diante da gravidade dos ataques, a USP fez uma denúncia formal à Procuradoria Geral, que resultou em uma ação civil contra indivíduos identificados nesses episódios de violência. Além disso, a reitoria comunicou à Secretaria de Segurança Pública do Estado, pedindo agilidade nas investigações.
A Importância da Democracia e Mobilização Universitária
Como parte de suas iniciativas, a direção da FFLCH anunciou um grande ato em defesa da democracia, agendado para o dia 2 de outubro. Fanjul convidou diversos setores da sociedade, incluindo acadêmicos, políticos e movimentos sociais, para se unirem em prol da defesa da universidade e da liberdade de expressão.
Questionado sobre o porquê da escolha de universidades públicas para essas provocações, Fanjul argumentou que esses grupos não buscam um debate genuíno, mas sim a criação de escândalos para a promoção de suas ideologias. “A universidade é um espaço de resistência ao discurso de ódio e à desinformação”, afirmou, ressaltando a necessidade de proteção dessas instituições contra ataques ideológicos.
Reflexões sobre a Inclusão e a Realidade das Universidades
O diretor também comentou sobre a percepção equivocada de que as universidades públicas são espaços elitistas. “Na verdade, aproximadamente 64% dos estudantes da USP vêm de famílias com renda inferior a R$ 7 mil”, destacou, enfatizando que a inclusão é uma característica central das instituições. Fanjul acredita que a pressão contra a universidade pública é impulsionada por interesses econômicos de grupos que desejam diminuir o orçamento das instituições.
Em resumo, Fanjul defende que a USP deve ser um espaço de debate e resistência contra a desinformação e a violência, mas sem se submeter ao ritmo acelerado e às provocativas estratégias das redes sociais.