Cessação das Hostilidades Sob Urgência
Nas últimas 48 horas, a fronteira entre Camboja e Tailândia tem sido palco de intensos combates, e a situação se agrava neste sábado (26). De acordo com informações recentes das autoridades locais, o conflito já resultou em 33 mortes, o que representa um aumento alarmante no número de vítimas. O governo cambojano, diante da crise, pediu um “cessar-fogo imediato” durante uma reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU na sexta-feira (25).
A informação foi confirmada pela correspondente da RFI no Camboja, Juliette Buchez, que relatou que o Ministério da Defesa do Camboja reportou 13 mortes e 71 feridos no país. Da mesma forma, a Tailândia contabilizou 20 mortos, incluindo seis militares, reafirmando a gravidade da situação.
Os confrontos, que começaram na quinta-feira (24), são uma escalada significativa de um conflito de longa data relacionado à demarcação da fronteira, sendo a mais severa em mais de dez anos. As hostilidades envolveram o uso de aviões de combate, tanques e artilharia pesada, um cenário que preocupa os especialistas em segurança internacional.
A Escalada da Violência e Seus Efeitos
O número de mortos já supera a última onda de violência entre os países, que entre 2008 e 2011 deixou 28 mortos. Os combates têm se intensificado especialmente nas proximidades de templos centenários e se espalharam por uma extensa área de colinas, repleta de vegetação densa, cercada por plantações de borracha e arroz.
Os relatos de batalhas continuam a chegar, com combates sendo registrados na manhã deste sábado em novas áreas. A província costeira de Trat, na Tailândia, e a província de Pursat, no Camboja, testemunharam novos confrontos, aumentando a instabilidade na região. Um morador tailandês refugiado em Sisaket, a aproximadamente 10 km da fronteira, expressou sua angústia: “Só quero que isso acabe o mais rápido possível”. Enquanto isso, um músico cambojano chamado Visal, abordado pela correspondente Juliette Buchez, revelou seu desejo por uma solução pacífica, ressaltando que muitos dos seus amigos são tailandeses.
Os conflitos já forçaram a evacuação de mais de 138 mil pessoas na Tailândia, enquanto no Camboja, cerca de 35 mil foram obrigadas a deixar suas residências, ampliando a crise humanitária na região.
Diálogo e Negociações em Tempo Urgente
Após a reunião no Conselho de Segurança da ONU, o embaixador cambojano, Chhea Keo, reiterou o pedido de cessar-fogo imediato e incondicional. Ele enfatizou a importância de encontrar uma solução pacífica, uma posição também apoiada pelo ministro das Relações Exteriores tailandês, Maris Sangiamposa. Em declarações à imprensa, Sangiamposa enfatizou a necessidade de o Camboja demonstrar “sinceridade genuína para encerrar o conflito” e retomar o diálogo bilateral.
A Tailândia manifestou abertura para negociações, com a Malásia, atual presidente da ASEAN, oferecendo-se como mediadora, o que poderá ser um passo crucial para a estabilização da situação. Contudo, os dois países continuam a se acusar mutuamente pelos disparos iniciais. A Tailândia alega que o Camboja atingiu civis, enquanto o governo cambojano nega as acusações e afirma que as forças tailandesas usaram munições de fragmentação.
Implicações Futuras e Contexto Histórico
A escalada atual é particularmente preocupante, pois representa um agravamento da disputa territorial que se estende por 800 quilômetros entre os dois países. O traçado da fronteira, definido na era da Indochina, foi objeto de uma decisão da Corte Internacional de Justiça da ONU em 2013, que deveria ter encerrado o conflito. Entretanto, a crise teve início novamente em maio, quando um soldado cambojano foi morto em um confronto noturno, sinalizando uma nova fase de tensão.
As relações entre Camboja e Tailândia se tornaram ainda mais tensas no último mês, após vazamentos de declarações da ex-primeira-ministra tailandesa, Paetongtarn Shinawatra, que foram vistas como desrespeitosas em relação aos líderes militares de Bangkok, resultando em sua suspensão pela Corte Constitucional tailandesa.