Em 2018, o rapper Mano Brown realizou uma crítica contundente à esquerda brasileira em meio à ascensão de Jair Bolsonaro nas pesquisas eleitorais, que o colocava como forte candidato a vencer Fernando Haddad, representante do Partido dos Trabalhadores (PT). Brown destacou a incapacidade da esquerda de identificar as necessidades da população fora de sua própria bolha, evidenciando a falta de comunicação entre essa esfera política e os cidadãos. Seu descontentamento se manifestou na forma de um questionamento relevante: por que ainda se debate questões que não refletem os urgentíssimos problemas enfrentados pelo povo? Um exemplo claro dessa desconexão é a discussão em torno da linguagem neutra; enquanto a educação pública continua falhando e o analfabetismo funcional permanece um desafio, discutir a inclusão de termos neutros parece uma preocupação secundária.

O Brasil, sob a liderança do PT nos últimos 22 anos, dos quais 15 foram sob seus mandatos, ainda luta para resolver questões fundamentais que afetam a vida dos cidadãos. E, em meio a esse cenário, a recente polêmica envolvendo o PSOL—que se posicionava como um forte concorrente à prefeitura da maior cidade da América Latina—acaba refletindo a crítica de Mano Brown. O debate sobre a alteração do Hino Nacional para incorporar linguagem neutra revela uma falta de sensibilidade à realidade vivida pela população, preocupações que vão muito além da troca de palavras. Há um mundo real, repleto de dificuldades, onde a prioridade deve ser a luta contra a desigualdade e as necessidades básicas dos cidadãos, e não discussões que parecem distantes de suas vivências.

Ainda mais alarmante é a falta de entendimento e estratégia por parte da equipe do PSOL, que aparenta não captar o funcionamento das redes sociais. A decisão de apagar um vídeo controverso, após sua divulgação, apenas amplificou a polêmica, evidenciando uma falta de controle sobre a narrativa nas plataformas digitais. Em vez de mitigar os danos, a ação criada para corrigir um erro acabou se transformando em um fardo, fortalecendo a campanha de seus adversários, em vez de colaborar para a própria.

A reação de certos setores da esquerda, como a indignação direcionada a Mano Brown por conta de suas críticas, revela um profundo desconforto com a realidade. Ele foi alvo de críticas por petistas, que o acusaram de colocar seus companheiros de partido em uma situação embaraçosa. No entanto, as observações do artista eram pertinentes e refletiam uma visão clara dos desafios enfrentados pelo Brasil. Como já mencionou um líder do PT, muitos dentro da esquerda ainda estão presos a um discurso ultrapassado, incapazes de assimilar a mudança significativa ocorrida na cena política global desde a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética.

Essa dificuldade de adaptação à nova realidade pode custar caro ao PT, especialmente em relação às eleições em capitais, onde a sigla pode perder oportunidades valiosas de conquistar prefeituras. As pesquisas recentes não mostram um cenário otimista para os petistas, que lançaram candidaturas em 13 capitais, mas até agora não lideram nenhuma das corridas eleitorais. As chances de sucesso em municípios como Teresina, Fortaleza e Porto Alegre são preocupantes. Em Porto Alegre, por exemplo, a candidata Maria do Rosário (PT) alcançou apenas 31%, posicionando-se em segundo lugar, atrás do atual prefeito Sebastião Melo (MDB), que está à frente com 36%.

Em Teresina, a situação é semelhante; Fábio Novo (PT) registou 37%, mas ainda está a nove pontos percentuais do líder da corrida, Sílvio Mendes (UB), que detém 46%. A situação em Fortaleza é ainda mais crítica, onde o candidato petista obteve apenas 14% das intenções de voto, muito distante dos 31% alcançados por Capitão Wagner (UB), líder na disputa.

Portanto, a necessidade de um olhar atento às questões reais da população, a compreensão do cenário político atual e a adoção de estratégias eficazes são fundamentais para que a esquerda brasileira, representada por partidos como PT e PSOL, consiga se reconectar com o eleitorado e enfrentar os desafios futuros. Se não houver uma mudança de abordagem, as consequências nas próximas eleições podem ser desastrosas, relegando a esquerda a uma posição de marginalização no campo político nacional.

Share.
Leave A Reply

Exit mobile version