A poucos dias das eleições municipais, marcadas para o próximo mês, o cenário político brasileiro revela mistérios que costumavam ser tidos como certezas, especialmente em relação à escolha de mais de 5.500 prefeitos e mais de 58 mil vereadores em todo o país. Nesta 13ª eleição do século XXI, muitos antigos paradigmas estão sendo desafiados e algumas expectativas inicializadas traçaram caminhos opostos ao que se imaginava. Veja algumas observações relevantes:
1. **Importância do Horário eleitoral**: Surpreendentemente, mesmo em uma era dominada pela Inteligência Artificial e pelas novas mídias, o tradicional horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão continua a ser uma ferramenta vital para impactar a opinião pública e, consequentemente, as intenções de votos. Um recente levantamento da datafolha em são paulo ilustra esse fato, mostrando que o atual prefeito, Ricardo nunes (MDB), experimentou um aumento significativo de 5 pontos percentuais em sua popularidade desde o início das transmissões. nunes, que conta com o apoio de uma ampla coligação de 12 partidos, detém uma quantidade considerável de espaço publicitário, acumulando 6 minutos e 30 segundos de tempo em programas diurnos e noturnos, além de 1.913 inserções de até um minuto na programação. Tal vantagem pode explicar sua ascensão de 22% para 27% nas intenções de voto, superando, embora dentro da margem de erro, o candidato do PSOL, Guilherme boulos, que está com 25%.
2. **Redes Sociais vs. Mídia Tradicional**: Embora as redes sociais desempenhem um papel crucial nas campanhas, a falta de presença no rádio e na televisão pode ser fatal. O exemplo de pablo marçal (PRTB), que optou por uma campanha exclusivamente digital e viu sua popularidade cair para 19%, reforça essa narrativa. As redes, embora poderosas, não eliminaram por completo a relevância do horário eleitoral, que continua a ser a principal fonte de informação para 63% dos eleitores, que relataram ter visto ou ouvido as propagandas tradicionais.
3. **Critérios de Votação**: A pesquisa destaca que o processo de decisão dos eleitores permanece consistente ao longo dos anos. Segundo os dados, 54% dos entrevistados dizem que escolhem seu candidato com base nos debates e propostas, enquanto 42% dos eleitores se influenciam pelas conversas com amigos e familiares. Outros 41% mencionam as notícias na televisão, enquanto 37% destacam as redes sociais – um número inferior ao registrado nas eleições presidenciais de 2022. Além disso, a influência dos líderes religiosos continua significativa, impactando 23% dos eleitores.
4. **Preferência pela Experiência**: Um fato curioso é que os eleitores parecem estar demonstrando cansaço em relação a promessas de mudança radical. Em 2024, o número de candidatos à reeleição atingiu níveis recordes, com praticamente três mil postulantes pelo país. Entre as 26 capitais, 20 têm seus prefeitos buscando a continuidade no cargo, sendo que 10 deles lideram as intenções de votos em suas respectivas cidades. No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) apresenta 59% das intenções, enquanto joão campos (PSB) em recife desponta com impressionantes 76%, ambos com chances reais de garantir a vitória logo no primeiro turno.
5. **Questões Locais em Foco**: Enquanto debates sobre questões nacionais podem gerar engajamento nas redes, eles não parecem ressoar com a mesma força nas cidades, onde temas como coleta de lixo, transporte público, moradia, acesso à saúde e segurança pública são priorizados. É notável que muitos candidatos, mesmo sem competências diretas para controlar a violência urbana, prometem soluções através da ampliação das guardas municipais, uma prática que se repete na política, mostrando que enganar o eleitor não é uma novidade.
6. **Rejeição aos Padrinhos Políticos**: A influência de figuras políticas tradicionais, como o ex-presidente Jair bolsonaro e o atual presidente Luiz Inácio lula da Silva, parece estar em queda. Dados em são paulo indicam que 65% dos eleitores rejeitam candidatos apoiados por bolsonaro, um fator que impacta diretamente a posição de nunes, que se vê dividido sobre buscar o apoio do ex-presidente. Por outro lado, boulos, que busca associar sua campanha a lula, enfrenta o risco de descontentamento, já que 44% dos eleitores expressaram a intenção de não votar em candidatos respaldados pelo atual presidente.
Por fim, o cenário eleitoral não ficaria completo sem a menção a José Luiz Datena, agora filiado ao PSDB. O apresentador que, em diversas ocasiões, cogitou desistir da candidatura, parece determinado a permanecer na corrida eleitoral. Com o prazo para alterações nas candidaturas se aproximando, o desfecho dessa situação ainda está por vir.
Este panorama atual sugere que, após as eleições, os desafios continuarão, incluindo a contestação de pesquisas e a identidade do processo eleitoral. Contudo, um aspecto é certo: o país caminha para uma nova normalidade política, se distanciando das crises anteriores. Essa esperança de um cenário mais estável e previsível é um alento para muitos cidadãos que anseiam por um futuro melhor.