Flagrante em Imóvel de Luxo

Em um intrigante episódio ocorrido em abril do ano passado, um Fiat Toro se aproximou de um elegante edifício localizado no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Era fim de tarde, e o motorista, para acessar o prédio na Rua Itapeti, teve que abaixar o vidro do veículo. De acordo com investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP), o condutor era Silvio Luís Ferreira, conhecido como Cebola.

As imagens de câmeras de segurança, anexadas a um documento da Promotoria que foi obtido pelo Metrópoles, indicam que ele esteve no edifício entre 17h e 18h do dia 5 de abril de 2024.

Cebola, que está foragido da Justiça há aproximadamente dez anos, é considerado um dos principais membros da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa que também conta com Marco Willian Herbas Camacho, o Marcola, entre seus líderes.

Companhia Questionável

Durante sua visita ao imóvel, Cebola estava acompanhado por seu advogado, Ahmed Hassan Saleh, conhecido como Mude. Saleh, que já foi acionista da empresa de ônibus UpBus, é investigado por sua suposta ligação com a lavagem de dinheiro do PCC. Além disso, ele também é suspeito de estar envolvido em atos de violência relacionados à facção, como o assassinato de Vinícius Gritzbach, um delator do PCC, ocorrido em novembro do ano passado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

As imagens do circuito interno de segurança mostram Cebola e Mude juntos no local, e a esposa de Mude, Rosana Aparecida Ferreira dos Santos, também foi identificada nas gravações. De acordo com um relatório do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPSP, Cebola teria “frequentado” o imóvel, embora o documento não detalhe visitas anteriores.

Possível Ocupação

As evidências indicam que o apartamento de luxo poderia estar sendo preparado para uma futura ocupação. Uma denúncia citada no relatório sugere que o local “possivelmente” era habitado pelo chefe do PCC. Mude, por sua vez, reside a apenas cerca de 800 metros de distância do imóvel, facilitando a comunicação entre eles.

É importante ressaltar que Cebola sempre negou sua associação ao PCC, e nem ele nem sua defesa puderam ser contatados para comentar a situação. O mesmo se aplica a Mude. O espaço permanece aberto para futuras manifestações.

Tatuapé: Reduto Criminosa

Como já foi revelado pelo Metrópoles, o Tatuapé se tornou um dos principais redutos das lideranças do PCC na cidade. As investigações confirmam que os líderes da facção têm investido substanciais quantias provenientes do tráfico de drogas na aquisição de imóveis e veículos luxuosos na região, que passa por um processo de expansão imobiliária.

Esse fenômeno está relacionado à ascensão social de moradores da zona leste, incluindo criminosos. Essa ostentação, alimentada por novos ricos do crime, resultou em diversas operações das polícias Federal e Civil, assim como do Gaeco, que têm mapeado concessionárias de veículos, construtoras e imóveis de alto padrão associados ao PCC.

O Perigo de Cebola

Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, é acusado de usar uma empresa de ônibus para lavar dinheiro da facção e possui um histórico criminal extenso. Ele já foi condenado por tráfico de drogas e está sob investigação pela movimentação de mais de R$ 1 bilhão da organização criminosa para o exterior. O MPSP o considera um dos principais alvos da Operação Fim da Linha, deflagrada em abril do ano passado, que visou desmantelar o setor financeiro do PCC, identificando movimentações superiores a R$ 732 milhões entre 2020 e 2022.

Durante cumprimento de mandados de busca, os policiais encontraram armas em um dos apartamentos de Cebola, que, no entanto, não estava presente no momento da operação.

Histórico Criminal

A trajetória criminal de Cebola é marcada por diversas prisões. Ele foi preso pela primeira vez em janeiro de 1998, acusado de roubo, e, ao longo dos anos, passou por várias penitenciárias, incluindo uma que abrigava figuras proeminentes do PCC, como Marcola. Em 2014, após conseguir um habeas corpus, Cebola foi condenado a 14 anos e mais de 3 meses de prisão por tráfico de drogas e associação criminosa, mas não retornou ao sistema penitenciário.

As investigações do MPSP revelaram a participação de Cebola nas operações financeiras do PCC, que incluíam envios de grandes quantias de dinheiro ao exterior. Ele era responsável pela logística de cargas de drogas e pela gestão dos gastos da organização, tornando-o uma figura central nas atividades ilícitas do grupo.

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