Uma Conexão entre Arte e Arquitetura
Mais de cinco décadas após sua idealização, a fachada do Palácio da Justiça, em Brasília, recebeu uma escultura que completa o icônico projeto elaborado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A obra de Roberto Burle Marx foi oficialmente inaugurada na noite de quinta-feira (7/8), no espelho d’água da entrada principal, estabelecendo uma notável fusão entre arte e arquitetura na Esplanada dos Ministérios.
Niemeyer, desde a concepção da capital, sempre teve a visão de integrar obras artísticas nas frentes dos primeiros edifícios, como o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada e a sede do Supremo Tribunal Federal. O Palácio Itamaraty, que foi inaugurado posteriormente, já abriga desde os anos 60 a escultura Meteoro, de Bruno Giorgi. No entanto, no caso do Palácio da Justiça, a instalação do projeto de Burle Marx só foi concretizada após 53 anos da inauguração do edifício.
A doutora em História da Arte, Graça Ramos, que atuou como curadora do projeto, explica que a construção do prédio levou aproximadamente uma década e atravessou diversas gestões, o que dificultou a instalação da escultura. Elcio Gomes da Silva, arquiteto da Câmara dos Deputados, relembra que Burle Marx, junto com José Waldemar Tabacow e Haruyoshi Ono, foi responsável pelos jardins internos e externos do Ministério da Justiça. “Entre a concepção e a obra finalizada em 1972, tivemos muitas decisões, incluindo adequações feitas por Oscar Niemeyer nos anos 80”, detalha Silva.
A Escultura e Seu Significado
A escolha da escultura ideal foi realizada por uma comissão formada por Rogério Tadeu de Salles Carvalho, Elcio Gomes da Silva, Graça Ramos, Lilia Schwarcz e Lílian Cintra de Melo. A peça, que estava até 21 de junho no Sítio Roberto Burle Marx, no Rio de Janeiro, é reconhecida como patrimônio mundial pela Unesco e representa uma obra inacabada, concebida na década de 1980.
Burle Marx, que faleceu em 1994, é amplamente reconhecido por sua habilidade em integrar o modernismo com a biodiversidade de plantas brasileiras. Para Graça Ramos, a escultura descoberta no sítio dialoga de forma harmônica com o jardim do Palácio. “Ela possui muito movimento e até pequenas florzinhas que brotam em sua superfície”, comenta a historiadora.
Feita em granito branco do Ceará, a obra possui mais de três metros de altura e, segundo Ramos, não é apenas rígida, mas simboliza uma resistência que reflete a realidade da Justiça brasileira. “Ela é simbólica porque é resistente, assim como a Justiça no Brasil. Dialoga intensamente com o contexto do país”, reflete.
Cerimônia Inaugural Reforça Importância Cultural
A cerimônia de inauguração contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da ministra da Cultura, Margareth Menezes. “A jornada que a obra percorreu até aqui simboliza a integração cultural entre nossas regiões”, destacou Lewandowski. “Entretanto, o significado dessa inauguração vai além da estética. Vivemos tempos desafiadores em relação à sustentabilidade do planeta, e essa obra ganha uma importância ímpar nesse contexto.”
O plano urbanístico da nova capital federal, que foi inaugurada em 1960, continua a ser embelezado por novos detalhes ao longo dos anos. “Brasília é uma obra de arte que se constrói diariamente”, enfatiza Graça Ramos.