O Papel das Bolas de Netuno na Limpeza dos Mares
A crescente presença de microplásticos em ecossistemas marinhos é uma preocupação que vem se intensificando nas últimas décadas. Surpreendentemente, os mares parecem ter encontrado uma forma de reagir a essa poluição. Pesquisadores da Universidade de Barcelona, na Espanha, identificaram que a Posidonia oceanica, uma planta marinha endêmica do Mediterrâneo, desempenha um papel crucial na filtragem desses fragmentos plásticos, que são posteriormente devolvidos às praias. Esse fenômeno foi batizado de “bolas de Netuno”.
A pesquisa, publicada na renomada revista científica Scientific Reports, revela que, além de suas funções ecológicas habituais — como proteger a costa, criar habitats para a biodiversidade e produzir oxigênio — essas algas marinhas também têm um papel inesperado na mitigação da poluição plástica nos oceanos.
Os cientistas analisaram amostras de bolas de algas marinhas nos litorais de Mallorca entre 2018 e 2019. Nas amostras coletadas, constatou-se que cerca de 50% das folhas de Posidonia oceanica apresentavam microplásticos. Em algumas amostras, foram encontrados até 600 fragmentos plásticos por quilo de folhas, além de uma densidade alarmante de 1,5 mil fragmentos por quilo em folhas agrupadas, embora apenas 17% delas apresentassem plástico.
Microplásticos: O Que São e Por Que Representam um Risco?
Os microplásticos são pequenas partículas que se desprendem de objetos plásticos através de processos como degradação, abrasão e lavagem. Essas partículas já foram detectadas em diversos ambientes, incluindo alimentos, água e até mesmo no corpo humano, provocando preocupações sobre seus efeitos na saúde, uma vez que foram encontrados em órgãos vitais e na placenta.
Testes realizados em camundongos indicaram que esses microplásticos podem chegar a fetos, levantando questões sobre os riscos à saúde que ainda não são totalmente compreendidos. O monitoramento da presença dessas partículas nos oceanos é, portanto, de extrema importância para a saúde pública e ambiental.
Bolas de Netuno: Um Alívio Temporário?
As algas marinhas, ao liberarem suas folhas, se misturam com microplásticos e outros detritos provocados pela atividade humana. No entanto, essa interação não é uma solução definitiva. Quando as bolas de Netuno contêm materiais como celulose, elas tendem a afundar, mas os fragmentos plásticos são levados pela correnteza, retornando às praias. Embora essa dinâmica possa parecer benéfica, os pesquisadores alertam que as bolas de Netuno não oferecerão uma solução sustentável para a questão da poluição plástica nos mares.
Infelizmente, as populações de Posidonia oceanica estão em declínio pelo mundo, uma situação agravada pelas mudanças climáticas. Assim, apesar de suas propriedades promissoras no combate à poluição, a eficácia das bolas de Netuno como um recurso de limpeza natural enfrenta desafios significativos.
Em suma, a descoberta das bolas de Netuno destaca a resiliência da natureza, mas também evidencia a urgência de abordagens mais amplas e eficazes para enfrentar a crise dos microplásticos nos oceanos. É essencial que ações sejam tomadas para proteger essas plantas marinhas, que desempenham um papel vital não apenas na preservação do meio ambiente, mas também na promoção da saúde dos ecossistemas marinhos.