Análise dos Impactos das apostas Online
O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) divulgou em junho um relatório intitulado “Debate público digital em adicção digital”, que examina os efeitos negativos das plataformas de apostas online — conhecidas como bets — na sociedade brasileira. Entre os achados, destaca-se a violação de legislações e os danos causados a crianças, adolescentes e consumidores em vulnerabilidade econômica.
O estudo aponta que aproximadamente 24 milhões de brasileiros participaram de apostas em 2024, com quase metade desses apostadores enfrentando problemas financeiros. Em uma entrevista ao Pauta Pública, Tiago Braga, diretor do IBICT, enfatiza que o crescimento desse fenômeno digital explora as fragilidades da população e desafia direitos coletivos, especialmente em um cenário marcado por desinformação e pouca fiscalização.
“O que mais me chocou foi ver publicidade de apostas direcionada a crianças, utilizando canais que eliminam os rastros rapidamente […]. É uma estratégia bem elaborada que dificulta o acompanhamento por parte dos pais e a fiscalização por parte do governo, além de obscurecer a realidade para a sociedade”, ressalta Braga.
Os principais pontos da entrevista evidenciam problemas críticos das apostas online e dos direitos difusos. O diretor inicia explicando a relevância da pesquisa e os dados mais impactantes que emergiram dela. O IBICT, fundado na década de 50, busca estruturar práticas de informação, ciência e tecnologia para o progresso do país, e a desinformação se contrapõe a essa missão.
“É crucial abordar questões de desordem informacional, especialmente nas plataformas digitais, onde discutimos propostas para garantir direitos, exercitar a cidadania e promover civismo nas interações sociais”, comenta Braga.
Direitos do Consumidor e Publicidade Enganosa
O relatório destaca que as apostas online frequentemente violam direitos do consumidor, especialmente em contextos onde produtos enganadores são oferecidos. A publicidade inadequada voltada para crianças é uma das questões mais alarmantes, uma vez que, embora existam avisos de restrição etária, eles são quase invisíveis na maioria das campanhas.
Outro ponto levantado pela pesquisa é o uso de influenciadores e canais de YouTube que, durante transmissões ao vivo, inserem links de apostas ilegais sem a devida regulamentação. Braga observa que muitos desses canais promovem conteúdo voltado para crianças, expondo-as a riscos desnecessários.
A metodologia do estudo envolveu análise de publicidades online e debates públicos, com o objetivo de garantir os direitos do consumidor e abordar a problemática da desinformação em relação às apostas.
Publicidades Voltadas para Crianças: Uma Preocupação Crescente
O alerta de Braga, um pai de três filhos, é claro: “O que mais me impactou foi a publicidade dirigida ao público infantil. Vimos canais de YouTube com milhões de seguidores que normalmente publicam vídeos de jogos, como Minecraft, veiculando propaganda de apostas. Esses canais utilizam a transmissão ao vivo para promover bets, e o mais preocupante é que, uma vez encerrada a transmissão, o conteúdo é eliminado, tornando quase impossível a verificação por parte dos pais ou das autoridades.”
Essa tática, segundo Braga, é uma manobra bem estruturada que não apenas obscurece os rastros da atividade, mas também dificulta a conscientização dos pais. A situação é ainda mais preocupante dado o papel das casas de apostas no patrocínio de grandes mídias, que, por conflitos de interesse, podem evitar problematizar práticas prejudiciais à saúde e à economia.
Papel da Mídia na Investigação das Bets
“A mídia desempenha uma função essencial na investigação e pesquisa, assim como as plataformas digitais que facilitam a difusão de informações. Há um projeto em andamento sobre desinformação relacionada a vacinas que precisa de mais espaço na mídia. Após a pandemia de Covid-19, a cobertura desses temas parece ter diminuído, mas a discussão sobre direitos precisa continuar”, afirma Braga.
Ele alerta que a sociedade deve se comprometer com debates mais profundos, não apenas sobre tópicos superficiais, como desigualdade salarial entre gêneros, mas sobre a importância de direitos difusos e seu impacto na vida cotidiana. O diretor acredita que iniciativas independentes são fundamentais para aprofundar a discussão, mas é necessário que outros meios de comunicação também se engajem nessa causa.