A narrativa veiculada pela imprensa sugere que o bombardeio americano ao bunker de Fordow e outras instalações nucleares do Irã serviu como um incentivo para o regime do aiatolá Ali Khamenei, que, segundo essa interpretação, estaria agora decidido a acelerar sua busca pela fabricação da bomba atômica, um objetivo que, até então, não parecia ser sua prioridade. Além disso, há uma tentativa de minimizar o impacto da ação militar ordenada por Donald trump, que foi uma operação estratégica significativa, ofuscando a imagem da retirada desastrosa dos Estados Unidos do Afeganistão em 2021, sob a administração de Joe Biden.
É desconcertante notar a expectativa de que o regime iraniano teria conseguido transferir urânio enriquecido de Fordow, mas mesmo que isso tenha ocorrido, é intelectualmente desonesto considerar o bombardeio das principais instalações nucleares iranianas como um fracasso. Ao atacar o Irã, os Estados Unidos finalmente tomaram uma posição firme contra um regime que, por quase cinquenta anos, tem ameaçado diretamente cidadãos americanos, além de apoiar grupos terroristas que afetam a segurança de aliados na região.
Esse ataque quebrou um tabu histórico, desafiando a ideia de que um confronto direto com o Irã, mesmo que sob uma abordagem de “entrada e saída rápida”, levaria ao caos no oriente médio. A realidade é que o regime iraniano não possui a força militar que sempre foi atribuída a ele, conforme evidências recentes demonstradas por israel. O cenário no oriente médio também evoluiu significativamente desde o início do século, e hoje o Irã é praticamente o único Estado na região que ainda patrocina o terrorismo, embora essa capacidade tenha sido severamente reduzida, uma vez que o regime se vê lutando pela própria sobrevivência.
O apoio ao terrorismo islâmico tem diminuído, especialmente em relação aos grupos e milícias que operavam no Iraque e na Síria. O Hamas e o Hezbollah, por exemplo, sofreram perdas significativas nas mãos das forças israelenses, e, embora ainda representem uma ameaça, já não possuem o mesmo poder de fogo de antes. Quanto ao Afeganistão, os talibãs aparentemente aprenderam que acolher grupos terroristas internacionais pode levar a consequências devastadoras para seu regime.
No Iémen, devastado por uma guerra civil, os rebeldes houthis também enfrentam uma diminuição em sua capacidade de operar, principalmente devido à redução do apoio do Irã, e agora devem se concentrar mais em evitar a derrota nas mãos do governo sunita que buscam derrubar. Em relação aos outros países árabes, embora condenem publicamente as ações de israel e dos Estados Unidos para apaziguar os elementos radicais internos, muitos líderes da região desejam a queda do aiatolá Khamenei, que aspira a expandir sua influência ideológico-religiosa por toda a região.
Os países árabes estão ansiosos para assinar tratados de paz com israel, seguindo o exemplo dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein, que firmaram os Acordos de Abraão em 2020. A Arábia Saudita, por sua vez, estava prestes a formalizar um acordo até que o Hamas lançou o ataque em 7 de outubro de 2023, que, ironicamente, buscava impedir a normalização das relações entre os sauditas e os israelenses.
A capacidade do mossad, a inteligência israelense, será crucial para determinar se o ataque americano realmente neutralizou o programa nuclear iraniano ou se a ameaça de produção de armas nucleares por parte do regime de Khamenei ainda persiste. Caso a ameaça continue, é provável que novos ataques sejam lançados até que o objetivo de desmantelar o programa nuclear seja alcançado, especialmente agora que a superpotência americana parece ter rompido com o tabu que a limitava.
Atualmente, Khamenei se encontra escondido em um bunker secreto, evitando meios eletrônicos para não ser rastreado, e utiliza intermediários de confiança para se comunicar com seus aliados. Enquanto isso, a Força Aérea de israel continua sua ofensiva, atacando alvos que simbolizam a repressão do regime, como prisões e quartéis-generais da Guarda Revolucionária. Um dos alvos recentes foi um “relógio da destruição” em teerã, um símbolo da contagem regressiva do regime para a eliminação de israel, cuja previsão de Khamenei de que o “regime sionista” chegaria ao fim em 2040 pode ser um indicativo de seu otimismo excessivo sobre a durabilidade de seu próprio governo.
O ataque dos EUA ao Irã não deve ser considerado um fracasso; reconhecer a eficácia das ações de trump e netanyahu não implica isentá-los de críticas por suas políticas. O debate sobre a nova ordem mundial, especialmente após comentários como os de celso amorim, que afirma que “acabou a ordem mundial”, ignora o fato de que a verdadeira mudança na ordem global já havia começado muito antes, com a invasão da Crimeia pela rússia em 2014, um prelúdio para eventos mais recentes.