Contexto da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto

A Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), criada em 1998, tem como objetivo promover a educação e a pesquisa sobre o Holocausto. Recentemente, a organização se tornou um ponto de discussão acalorada, especialmente após a decisão do Brasil de se retirar como membro observador. O Ministério das Relações Exteriores de Israel anunciou essa retirada em 24 de julho, ressaltando que o Brasil abdicou de uma postura global contra o antissemitismo ao considerar se juntar à ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra Israel, sob alegações de genocídio.

Embora o governo brasileiro, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, ainda não tenha se pronunciado oficialmente sobre a saída, fontes diplomáticas confirmaram ao jornal Folha de S. Paulo que a decisão se deu por acreditar que a adesão à IHRA foi feita de maneira inadequada durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O que caracteriza a IHRA?

A IHRA, idealizada pelo ex-primeiro-ministro sueco Göran Persson, tem se dedicado a unir governos e especialistas com a meta de reforçar a educação, memória e pesquisa relativas ao Holocausto, um genocídio que resultou na morte de cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Na época de sua fundação, Persson destacou a necessidade dessa iniciativa, considerando que muitos jovens na Europa estavam pouco informados sobre o impacto do Holocausto.

Desde sua criação, a IHRA tem reunido diversas nações, contando atualmente com 35 membros e 8 países observadores. A colaboração internacional busca promover atividades educativas e resgatar testemunhos de sobreviventes do Holocausto, visando alcançar as novas gerações.

Repercussões da saída do Brasil

A retirada do Brasil da IHRA gerou reações negativas, com o Ministério das Relações Exteriores de Israel classificando a decisão como uma grave falta de moralidade. Segundo o ministério, em um período em que Israel enfrenta ameaças à sua existência, optar por se afastar do consenso global contra o antissemitismo é considerado imprudente. O comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o combate ao antissemitismo, Fernando Lottenberg, também se manifestou, considerando essa escolha um erro, defendendo que o Brasil deveria permanecer na IHRA, apesar das divergências políticas com Israel.

O papel controverso de Dani Dayan

Atualmente, a presidência da IHRA é ocupada por Israel, representado pelo jurista Dani Dayan, figura que já foi fonte de atritos entre Brasil e Israel. Em 2015, ele foi vetado pela então presidente Dilma Rousseff para ser embaixador de Israel no Brasil, após seu nome ser anunciado em redes sociais antes de qualquer comunicação oficial ao governo brasileiro. Além disso, Dayan já havia liderado um conselho de colonos israelenses em áreas palestinas ocupadas, o que gerou mais controvérsias.

A definição de antissemitismo da IHRA em debate

Um dos pontos centrais da polêmica em torno da IHRA é sua definição de antissemitismo, adotada em 2016. Essa definição, que foi formulada inicialmente nos anos 2000, visa criar uma abordagem comum para entender e coletar dados sobre o antissemitismo. Contudo, críticos argumentam que ela pode ser utilizada para restringir críticas legítimas a Israel.

Exemplos da definição incluem a comparação das políticas de Israel ao nazismo, o que foi invocado em 2023 como justificativa para cancelar um evento em homenagem à jornalista Masha Gessen, que fez uma analogia entre a destruição em Gaza e os guetos nazistas. Organizações da sociedade civil já solicitaram à ONU que não reconheça essa definição, alegando que ela tem sido empregada para silenciar críticas legítimas ao governo israelense.

Visões divergentes sobre a definição de antissemitismo

Defensores da definição, como o comissário alemão Felix Klein, sustentam que ela é uma ferramenta essencial no combate ao antissemitismo, enfatizando que a crítica a Israel não deve ser automaticamente rotulada como antissemitismo. Por outro lado, críticos preferem a Declaração de Jerusalém, que oferece uma definição alternativa, argumentando que a IHRA é ambígua e suscetível a múltiplas interpretações, o que pode dificultar o combate efetivo ao antissemitismo.

Kenneth Stern, o principal redator da definição da IHRA, expressou preocupações sobre seu uso indevido para censurar a liberdade de expressão, afirmando que sua intenção inicial jamais foi criar uma ferramenta para restringir críticas legítimas a Israel. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) defende que a adesão à IHRA é crucial para educar e informar sobre o Holocausto, garantindo que suas lições sejam transmitidas para as gerações futuras.

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