Nos últimos anos, o brasil tem testemunhado uma crescente e silenciosa divisão entre o campo e a cidade, uma realidade que, embora sutil inicialmente, se tornou cada vez mais evidente. O conceito de agronegócio, que durante décadas simbolizou progresso, desenvolvimento e um motivo de orgulho nacional, agora carrega um estigma negativo para muitos brasileiros. Esse termo passou a ser associado a algo distante, impessoal e até mesmo ganancioso, refletindo preocupações com a exclusão social, a desigualdade econômica e a destruição ambiental. Mas como chegamos a essa percepção distorcida?
É importante destacar que o problema não reside na essência do agronegócio brasileiro. Este setor é reconhecido por sua competência, eficiência e inovação. A agricultura e a pecuária brasileiras são capazes de produzir alimentos de alta qualidade, enfrentando desafios climáticos e logísticos, e garantindo a alimentação de mais de 200 milhões de brasileiros diariamente. Portanto, a questão central está na forma como a comunicação é feita.
Por um longo período, o agronegócio se comunicou apenas internamente. Os conteúdos, influenciadores, eventos e discursos foram direcionados para quem já vive e trabalha no campo, deixando de fora a voz da população urbana. Essa exclusão gerou um ambiente de desconfiança em relação ao setor agrícola entre os cidadãos das cidades, que começaram a ver o agronegócio como um adversário.
Essa situação se agravou pelo comportamento de alguns influenciadores do agronegócio, que adotaram uma comunicação agressiva, irônica e até desdenhosa em relação ao público urbano. Em vez de abrir um diálogo construtivo, esses comunicadores optaram por fechar portas, afastando aqueles que poderiam ser aliados. Ao rotular o cidadão comum como “ignorante”, “manipulado” ou “inimigo do progresso”, perderam uma oportunidade valiosa de inclusão e conexão.
Essa abordagem é um erro estratégico grave. Ignorar a população urbana é um golpe contra um setor que depende essencialmente do apoio da sociedade para continuar evoluindo e prosperando. Portanto, é imperativo mudar a maneira como nos comunicamos.
Se queremos restabelecer a conexão entre o agronegócio e a população urbana, precisamos adotar uma comunicação mais clara, empática e respeitosa. Essa transformação pode começar com uma simples, mas significativa, alteração na terminologia. Proponho que adotemos o termo “agroalimento”.
Esse termo é simples, direto e esclarecedor, refletindo a verdadeira essência do que o agronegócio produz: alimentos. Alimentos que nutrem, sustentam, educam e formam. Eles estão presentes na merenda escolar, no restaurante da esquina e na geladeira de cada lar. São itens essenciais nas cestas básicas, nas feiras, nos armazéns e nos carrinhos de supermercado.
Utilizar a palavra “agroalimento” é uma forma de trazer o agronegócio de volta à intimidade do consumidor. É uma maneira de mostrar que o que fazemos possui nome, cheiro, rosto e sabor, reforçando a conexão intrínseca entre o campo e a cidade — uma relação que sempre existiu e deve ser celebrada.
A comunicação deve servir como uma ponte, e não um muro. É hora de parar de falar apenas entre nós mesmos e de deixar de lado as disputas nas redes sociais com aqueles que deveriam ser nossos aliados. Precisamos de influenciadores que não apenas debatem, mas que também esclarecem, convidam e tocam o coração do consumidor.
O consumidor é, de fato, nosso cliente, nosso público e nosso parceiro. Por isso, é fundamental que busquemos vozes que comuniquem a realidade do agronegócio com sinceridade, mas também com empatia. Esse é o caminho para reconstruir a relação entre o campo e a cidade, garantindo que o agronegócio seja reconhecido e valorizado por todos os brasileiros. É imperativo que essa comunicação seja feita de forma a unir, educar e inspirar, promovendo um entendimento mútuo e uma colaboração que beneficie a todos.