O Impacto da IA nas Imagens de Celebridades Falecidas
Vídeos hiper-realistas de celebridades que já faleceram, gerados por meio de aplicativos de inteligência artificial como o Sora, da OpenAI, têm causado um verdadeiro alvoroço nas redes sociais. Lançado em setembro, o Sora se tornou alvo de controvérsias ao permitir a criação de deepfakes de figuras públicas e anônimas, levantando questões sobre o controle de imagem de personalidades já falecidas e de pessoas comuns.
O aplicativo é capaz de produzir clipes com personalidades históricas, como Winston Churchill, e ícones da música, como Michael Jackson e Elvis Presley. Em um exemplo marcante, um vídeo no TikTok mostra a rainha Elizabeth II, adornada com sua coroa, usando uma scooter em uma luta livre, enquanto em outro, ela elogia petiscos em um supermercado. Apesar do tom humorístico, nem todos os conteúdos gerados pelos vídeos do Sora têm recebido risadas.
Recentemente, a OpenAI decidiu restringir a geração de vídeos com a imagem de Martin Luther King Jr. após críticas de seus herdeiros. Relatos indicam que alguns usuários criaram clipes onde o ícone dos direitos civis era retratado de forma desrespeitosa, o que gerou indignação entre seus familiares e a comunidade em geral.
Constance de Saint Laurent, professora da Universidade de Maynooth, na Irlanda, expressou sua preocupação com esse fenômeno. Ela mencionou a teoria do “vale da estranheza”, que sugere que objetos ou representações que se aproximam da realidade humana podem provocar uma sensação de desconforto. Segundo ela, receber vídeos de um ente querido falecido pode ser uma experiência traumatizante, ressaltando a gravidade das consequências desse tipo de conteúdo.
Famílias Reagem ao Uso Indevido de Imagens
Nos últimos dias, a questão tem ganhado destaque com os protestos dos filhos de personalidades como Robin Williams e Malcolm X, que se manifestaram contra o uso de suas imagens em vídeos gerados pela IA. Zelda Williams, filha do famoso ator, fez um apelo em sua conta no Instagram, pedindo o fim do envio de clipes de seu pai originados por inteligência artificial. Sua declaração foi clara: “É enlouquecedor”.
Em resposta às críticas, um porta-voz da OpenAI reconheceu que, apesar de seu interesse em garantir a liberdade de expressão e o uso de figuras históricas em conteúdos, é fundamental que as personalidades públicas e suas famílias tenham controle sobre sua imagem. Para figuras falecidas, os representantes legais poderão solicitar a exclusão do uso da imagem no Sora.
Contudo, Hany Farid, cofundador da empresa de cibersegurança GetReal Security e professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, criticou a abordagem da OpenAI. Ele destacou que, embora a empresa tenha tomado medidas para limitar a criação de vídeos de Martin Luther King Jr., não é possível impedir que os usuários abusem da identidade de muitas outras celebridades.
A Falta de Restrição e seus Efeitos
Outro ponto relevante levantado por Farid é a ausência de restrições eficazes no uso da imagem de figuras públicas em diversas plataformas de inteligência artificial. Ele alertou que, mesmo com a implementação de algumas proteções pela OpenAI, haverá outros modelos de IA que não seguirão as mesmas diretrizes, o que poderá agravar ainda mais a situação.
Esse problema ficou evidente com a recente divulgação de vídeos gerados por IA com a imagem do diretor de cinema Rob Reiner, que foi assassinado junto com sua esposa. Checadores de fatos da AFP encontraram clipes circulando na internet que utilizaram sua imagem sem autorização.
Além disso, à medida que as ferramentas de inteligência artificial se tornam mais acessíveis, a vulnerabilidade não se restringe apenas a figuras públicas. Pessoas falecidas que não são famosas também podem ter suas identidades, imagens e palavras manipuladas para diferentes fins. Pesquisadores alertam que a proliferação de conteúdo sintético, muitas vezes chamado de “lixo de IA”, poderá ter um impacto negativo e afastar usuários das redes sociais.

