Utilização de Recursos do Crime Organizado
No gabinete do secretário Guilherme Derrite, uma tela gigante exibe dados provenientes das câmeras do Muralha Paulista, sistema de monitoramento estadual. Durante uma coletiva, ele anunciou que o imóvel de Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), foi apreendido e resultará na destinação de R$ 3 milhões para a Secretaria de Segurança Pública. Além disso, outros R$ 460 mil foram confiscados, reforçando o programa Recupera São Paulo, que destina recursos obtidos do crime organizado a melhorias na segurança pública.
Derrite argumentou que essa iniciativa é apenas o começo de um esforço maior para fortalecer os recursos da segurança. Em um contexto marcado pela violência, ele também defendeu a criação de uma agência nacional antimáfia, equiparando-se a iniciativas italianas.
Durante a entrevista, o secretário apontou as mudanças na criminalidade no estado, ressaltando a dualidade entre a digitalização do crime e a redução dos crimes de rua, como roubos. Questionado sobre o estado da polícia, ele refletiu sobre sua integração inicial e o desafio de unir as forças policiais em um sistema coerente.
“Quando assumi, a falta de comunicação entre diferentes polícias era evidente. Cada uma operava com seus próprios dados e políticas”, afirmou. Com o tempo, conseguiu estabelecer uma base comum de informações e implementar políticas públicas que envolvem diversos setores da segurança, como SP Vida, SP Mulher e SP Mobilidade, visando abordar as principais causas do crime.
Diagnóstico e Resposta à Criminalidade
O secretário destacou um dado alarmante: 47% das prisões em flagrante ocorreram com indivíduos em livramento condicional ou que estavam sendo procurados. A falta de integração entre cidades, como Indaiatuba e Campinas, limitava a efetividade das ações contra o crime. Para resolver isso, o programa Muralha Paulista foi criado para conectar as informações de diferentes municípios, permitindo um monitoramento mais eficaz.
Até agora, 598 municípios já assinaram convênios para integrar o sistema, com a expectativa de alcançar todos os 645 do estado. O que se busca é um sistema de vigilância robusto, onde câmeras de supermercados e farmácias também possam contribuir.
Desafios e Segurança de Dados
Sobre a proteção de dados no novo sistema, Derrite enfatizou que o acesso será controlado e rastreável, com diferentes níveis de permissão para os usuários. “Estamos garantindo que informações pessoais sejam preservadas e não utilizadas de forma inadequada”, disse, enfatizando a importância de manter a privacidade em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados.
Ao ser questionado sobre a eficácia do policiamento, o secretário afirmou que a tecnologia deve ajudar a planejar e direcionar as ações policiais, funcionando como um guia para os patrulhamentos. “Com o Muralha Paulista, a ideia é que os patrulheiros não dependam apenas da intuição, mas de dados concretos sobre ocorrências e padrões criminosos”, afirmou.
Reforma e Reinvestimento
Num momento em que a criminalidade cibernética cresce, Derrite reconhece a necessidade de reestruturação nas delegacias. Ele propõe que departamentos especializados, como o de Crimes Cibernéticos, ganhem autonomia e recursos adequados. A intenção é aumentar a eficiência no combate a crimes virtuais, detalhando uma nova política que envolve não apenas inteligência cibernética, mas também um laboratório especializado em lavagem de dinheiro.
“Identificamos mais de R$ 21 bilhões em lavagem de dinheiro do PCC e estamos desenvolvendo tecnologias que nos permitam monitorar e atuar contra isso de forma mais efetiva”, revelou. A abordagem se estende à criação de uma delegacia dedicada ao ambiente digital, com invasão em redes sociais e ações contra organizações criminosas.
Essa integração de dados e ações poderá tornar as forças de segurança mais autossuficientes, permitindo que parte dos recursos apreendidos sejam reinvestidos em melhorias na infraestrutura policial. “Nosso objetivo é transformar a segurança pública usando os recursos que conseguimos tirar do crime”, concluiu Derrite.