Investigação Revela Poderes Amplos
A chefe de gabinete do deputado federal Hugo Motta, Ivanadja Velloso Meira Lima, detinha a autorização para movimentar e sacar mais de R$ 4,1 milhões pertencentes a funcionários e ex-funcionários do parlamentar da Paraíba. A informação foi divulgada pela coluna nesta sexta-feira (15/8) e aponta que dez colaboradores, que atuaram ou ainda atuam com Hugo Motta, concederam a ela poderes por meio de procurações registradas em cartório. Essas procurações permitem que Ivanadja receba, movimente e saque os salários deles como secretários parlamentares.
O valor de R$ 4,1 milhões refere-se apenas aos pagamentos feitos a esses dez colaboradores durante o período em que estiveram a serviço de Hugo Motta. Os documentos conferem a Ivanadja poderes “amplos e ilimitados” para gerenciar as contas bancárias dos funcionários. A coluna teve acesso aos registros nos cartórios da Paraíba e verificou que as procurações foram assinadas desde a primeira posse de Hugo Motta na Câmara dos Deputados, em 2011.
Atualmente, Ivanadja Lima enfrenta uma ação na Justiça Federal envolvendo um suposto esquema de rachadinha no gabinete do deputado Wilson Santiago, seu aliado. Ela é acusada de movimentar a conta de um funcionário que, segundo os registros, nunca trabalhou em Brasília e não tinha conhecimento do valor do seu salário ou do número de sua conta bancária.
A procuração que a habilitava a realizar esses saques foi utilizada pelo Ministério Público Federal (MPF) como evidência durante a denúncia, feita em outubro de 2023, contra Ivanadja e um motorista considerado “fantasma”.
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Histórico e Controvérsias
Ivanadja Lima atuou como chefe de gabinete de Wilson Santiago até 31 de janeiro de 2011. No dia seguinte, foi integrada à equipe de Hugo Motta, que estava iniciando sua carreira na Câmara. Apesar de mudar de gabinete, ela continuou recebendo poderes para movimentar salários e gerenciar contas, sugerindo uma continuidade do esquema.
Ao ser procurado, o deputado Hugo Motta não se manifestou publicamente sobre o assunto. Ivanadja Lima também optou por não falar, levando a reportagem a tentar contato com as dez pessoas que assinaram as procurações. Duas mulheres encerraram a ligação imediatamente ao serem questionadas se ficavam com a totalidade de seus salários.
Funcionários Fantasmas e Acumulação de Cargos
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Entre as dez pessoas que assinaram procurações em nome de Ivanadja, apenas duas permanecem no gabinete de Hugo Motta. Ary Gustavo Xavier Guedes Soares, motorista e caseiro, nomeado em 2 de fevereiro de 2011, já recebeu mais de R$ 1,1 milhão da Câmara dos Deputados. Ele emitiu duas procurações permitindo que Ivanadja saque e movimente seu salário, a primeira delas apenas seis dias após ter sido nomeado.
Ary Gustavo também está envolvido em um processo trabalhista relacionado à fazenda de Hugo Motta em Serraria, a cerca de 131 km de João Pessoa. Apesar das tentativas, ele não respondeu aos contatos da coluna.
A outra funcionária que permanece no gabinete é Jane Costa Gorgônio, de 69 anos. Ela firmou procuração em março de 2012 e, desde então, acumula R$ 336,7 mil em salários. Quando questionada, Jane desligou o telefone rapidamente ao identificar a reportagem.
Acumulação de Cargos e Incompatibilidades
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Maria Socorro de Oliveira, de 64 anos, também autorizou Ivanadja Velloso a administrar seu salário através de uma procuração datada de 9 de abril de 2013, poucos dias após sua nomeação. De maneira similar aos demais, essa autorização permite a movimentação de valores “em quaisquer agências no território nacional”. Ela permaneceu no gabinete até novembro de 2016, ao mesmo tempo em que atuava no governo da Paraíba, o que levanta questões sobre a compatibilidade de funções, uma vez que a Constituição e as normas da Câmara proíbem a acumulação de cargos.
Ao longo de sua trajetória no gabinete, Maria Socorro acumulou R$ 82,1 mil em rendimentos. Posteriormente, trabalhou com outros deputados, mas não respondeu aos questionamentos da coluna.
Adilani da Silva Justino Soares, de 47 anos, foi outra figura envolvida, com uma procuração assinada em 25 de março de 2011. Após sua passagem por Hugo Motta, ela migrou para o gabinete de Wilson Filho, onde a situação de funcionários fantasmas também foi levantada. Durante a conversa com a reportagem, Adilani confirmou que trabalhou com o deputado, porém, quando questionada sobre a possibilidade de desvio de salário, preferiu não responder e desligou a ligação.
Por fim, a advogada Gabriela de Oliveira Figueiredo Leitão Venâncio é mencionada por ter recebido mais de R$ 879 mil entre 2011 e 2020. Apesar do contato, ela não se manifestou sobre os fatos.