Reflexões sobre a Carreira e o Cenário Atuais
Ao retomar a discussão sobre seu afastamento das novelas, Oscar Magrini, famoso por seus papéis marcantes, revelou que, após quase quatro anos fora das telinhas, ainda deseja retornar. Ele expressou, em entrevista ao site de Heloisa Tolipan, sua preocupação com as mudanças no cenário televisivo que, segundo ele, têm se tornado desconfortáveis. O ator criticou a rigidez do politicamente correto e a crescente presença de influenciadores digitais nos elencos, refletindo sobre as referências do passado que, aparentemente, estão sendo esquecidas.
“Eu tenho vontade de voltar às novelas, e isso não é novidade para ninguém. É uma profissão complicada – não só para entrar, mas também para se manter. Felizmente, continuo trabalhando. Recentemente, completei 35 anos de carreira e participei de cerca de 40 novelas. Comecei minha trajetória em 1990 no teatro com a peça Uma Ilha para Três, onde conheci minha mulher, Matilde Mastrangi. O ano seguinte trouxe meu primeiro filme, Perfume de Gardênia, e logo depois, em 1992, minha estreia nas novelas com Deus nos Acuda”, recordou Magrini.
O ator também mencionou a dificuldade que enfrenta devido à falta de familiaridade dos produtores mais jovens com artistas de gerações passadas e as questões logísticas que podem afastá-lo de novas produções. “Os produtores de elenco hoje em dia são muito jovens e talvez não conheçam figuras icônicas como Carlos Zara, Eloísa Mafalda e Raul Cortez. Além disso, moro em Atibaia, o que pode ser um impedimento para algumas produções que se concentram nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro”, avaliou.
O Rei do Gado e o Contexto da Atualidade
Magrini, ao recordar seu papel como Ralf na novela O Rei do Gado, destacou como a percepção dos personagens evoluiu com o tempo. “Se eu pudesse, interpretaria o Ralf novamente, mas seria necessário repensá-lo à luz das questões atuais sobre violência contra a mulher e feminicídio. O personagem tinha comportamentos que hoje seriam inaceitáveis. Ele era um cafetão que usava violência em troca de favores”, comentou.
Ele sugeriu que, em uma versão moderna da história, o personagem poderia ter uma orientação sexual diferente. “Hoje, talvez o Ralf fosse gay e se envolvesse com o Rei do Gado, o que poderia evitar a violência contra as mulheres, mas isso não significa que a violência seria aceitável. O tempo do politicamente correto tornou tudo mais difícil e chato. O público parece ter esquecido que novelas são ficção e podem provocar reflexões sobre a realidade”, opinou o ator, referindo-se ao panorama de feminicídios e outras violências que permeiam a sociedade brasileira.
A Crítica ao Politicamente Correto e os influenciadores na TV
Na mesma entrevista, Magrini lamentou a perda de leveza e espontaneidade da televisão, que, segundo ele, se tornou um ambiente hostil para a criatividade. “A televisão hoje é muito rígida. Como figura pública, sou obrigado a pensar várias vezes antes de fazer uma piada ou expressar uma opinião, pois o cancelamento se tornou uma ameaça constante”, criticou.
Ele também se manifestou contra a presença crescente de influenciadores digitais nas produções teatrais e televisivas. “A novela está mudando de cara e agora vemos influenciadores ocupando espaços que deveriam ser preenchidos por atores. Muitas vezes, eles não têm a formação necessária para isso. Um ator estuda e se prepara para assumir um papel, enquanto um influenciador, muitas vezes, não possui esse background”, justificou.
Para Magrini, o fato de uma pessoa ter milhões de seguidores não garante que eles acompanharão uma novela. “Os seguidores são efêmeros; o que realmente sustenta um ator é a preparação e o compromisso com a profissão”, enfatizou.
Por fim, ele advertiu que a atual falta de atores experientes nas produções pode comprometer a qualidade das novelas. “Antigamente, em uma novela das nove, era comum conhecer a maioria dos atores do elenco. Hoje, você pode não reconhecer a maioria. Embora todos comecem em algum lugar, muitos que estão chegando não têm a formação necessária, e isso prejudica o mercado”, concluiu.