Relembrando o Voo 2283
Neste sábado, dia 9 de agosto, completa-se um ano da queda do avião PS-VPB da Voepass em Vinhedo, interior de São Paulo. O acidente, que resultou na trágica perda de 62 vidas, entre passageiros e tripulantes, se tornou um marco na história da aviação brasileira.
Desde a tragédia, a maioria das famílias afetadas optou por aceitar os acordos de indenização, mediadas pelas Defensorias e Ministérios Públicos de São Paulo e do Paraná, recebendo assim as compensações financeiras. Contudo, as investigações que buscam esclarecer as causas da queda do voo 2283 ainda avançam lentamente, sem um prazo definido para conclusão.
Na última semana, uma equipe do Metrópoles conduziu uma investigação aprofundada sobre o caso, realizando entrevistas com familiares e documentando o que aconteceu desde o acidente até o momento atual. O resultado desse trabalho pode ser conferido no minidocumentário “A história do voo 2283”, além de uma reportagem que destaca os principais desdobramentos do acontecimento.
Detalhes do Voo
O voo PS-VPB da Voepass decolou do Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva, em Cascavel, Paraná, às 11h58, com destino ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. A bordo, estavam o piloto Danilo Romano, de 35 anos, e o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos, além de duas comissárias de bordo, Débora Soper Avila, 28, e Rubia Silva de Lima, 41.
Os 58 passageiros tinham adquirido suas passagens pela Latam, que comercializava os voos da Voepass, levando alguns deles a não estarem cientes da operadora real do voo. A viagem prosseguiu sem problemas aparentes até momentos antes da tragédia. Três minutos antes do acidente, a equipe de voo comunicou à torre de controle que estava na altitude apropriada para iniciar a descida.
No entanto, às 13h21, o avião começou a perder altitude de forma abrupta. Somente um minuto depois, a aeronave colidiu com o solo em Vinhedo. O impacto foi devastador e não houve sobreviventes.
Investigando a Queda
Imagens capturadas por moradores da região documentaram a descida do avião, que ocorreu em um movimento conhecido como parafuso chato, até sua queda em uma residência. Uma força-tarefa, composta por profissionais de diversas áreas, foi mobilizada rapidamente para a recuperação e identificação das vítimas. O capitão Medrado, membro do 19º grupamento do Corpo de Bombeiros, descreveu a ocorrência como a mais difícil de sua carreira.
A investigação, conduzida pelo Centro de investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), começou imediatamente após o acidente, com um relatório preliminar divulgado em setembro. O documento revelou que a tripulação percebeu uma falha no sistema de degelo da aeronave durante o voo. O copiloto Humberto mencionou a presença de “bastante gelo” minutos antes da queda.
O modelo ATR 72-500, que realizava o voo, é particularmente suscetível à formação de gelo em altitudes mais baixas. Especialistas em segurança de voo, como Roberto Peterka, afirmam que o avião não deveria operar nessas condições. No entanto, a investigação do Cenipa indicou que a aeronave apresentou três alertas sobre baixa velocidade e problemas de performance antes do acidente.
Reflexões e Denúncias
Entre os familiares, a sensação de negligência por parte da Voepass é palpável. Vídeos e fotos levantaram questionamentos sobre a manutenção das aeronaves da companhia. Luiz Cláudio de Almeida, ex-copiloto da Voepass e amigo do copiloto, revelou que havia uma cultura organizacional que desencorajava o registro de problemas nas aeronaves.
A Polícia Federal está investigando possíveis responsáveis pela tragédia. Informações obtidas pelo Metrópoles apontam que, no dia anterior ao acidente, um piloto já havia notado falhas no sistema de degelo, que não foram documentadas. A mãe de uma das vítimas, Fatima Albuquerque, expressou sua revolta e a luta por justiça, afirmando que a dor é agravada pela sensação de que a morte de sua filha poderia ter sido evitada.
A busca por respostas se intensificou, com a criação de uma associação por parte das famílias das vítimas para acompanhar as investigações e buscar justiça. Robson Kauffmann, um dos diretores da associação, relembra o último contato com seu companheiro antes do acidente, enfatizando a importância de garantir que futuras viagens sejam seguras.
A esposa do copiloto, Rosana Maria, também se manifestou, pedindo responsabilização pelos culpados, lembrando da experiência profissional de seu marido. Desde a tragédia, sua vida foi profundamente impactada.
A Fiscalização da Anac
Após o acidente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) iniciou uma operação para monitorar a Voepass. A companhia teve suas operações suspensas e, posteriormente, o certificado de operação foi cassado. A Anac apontou que a empresa não estava garantindo a correção de falhas que comprometessem a segurança.
Como resultado, a Voepass entrou com um pedido de recuperação judicial e demitiu diversos funcionários. A empresa, em nota, se declarou solidária às famílias e ressaltou que aguarda o relatório final do Cenipa para determinar as causas do acidente. A Latam também se manifestou, enfatizando que os acordos comerciais com a Voepass eram comuns na aviação.
Por sua vez, a Anac confirmou que todos os certificados da aeronave estavam válidos e que a investigação do acidente é de responsabilidade do Cenipa. A esperança de que lições possam ser aprendidas e que tragédias como essa não se repitam ainda ecoa entre os que perderam entes queridos.