Na próxima terça-feira, 24 de outubro, acontecerá uma acareação crucial no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo o tenente-coronel Mauro Cid e o general Walter Braga Netto. Este procedimento, que visa esclarecer as discrepâncias nas declarações prestadas por ambos em relação a uma investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, será realizado em uma sessão fechada ao público. Somente as partes diretamente envolvidas, seus advogados, o ministro alexandre de moraes — responsável pela relatoria da ação penal — e representantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) estarão presentes.
Além dessa acareação, no mesmo dia, está agendada uma outra reunião entre o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que é réu no processo, e o general Freire Gomes, que atuou como ex-comandante do Exército e é testemunha na investigação. O processo de acareação, que consiste em reunir indivíduos para que apresentem suas versões dos fatos de forma direta, tem como principal objetivo esclarecer a verdade por trás dos acontecimentos em questão.
O ministro alexandre de moraes explicou que, durante as acareações e interrogatórios, o réu tem o direito de não se autoincriminar, ou seja, não é obrigado a testemunhar contra si mesmo. Por outro lado, as testemunhas têm a obrigação legal de fornecer informações verídicas.
Os horários das acareações são os seguintes:
– Mauro Cid e Walter Braga Netto, às 10h.
– Anderson Torres e Freire Gomes, às 11h.
Vale destacar que o general Braga Netto, atualmente sob prisão preventiva no Rio de Janeiro, comparecerá pessoalmente ao STF, utilizando um dispositivo de monitoramento eletrônico, e retornará à unidade prisional após a audiência.
Em relação às divergências entre os depoimentos de Mauro Cid e Walter Braga Netto, os advogados do general apontam para dois pontos principais de contradição. O primeiro envolve uma reunião que teria ocorrido em novembro de 2022 na residência de Braga Netto, onde, segundo Cid, o objetivo era discutir um plano conhecido como “Punhal Verde e Amarelo”. Durante esse encontro, Cid afirma que houve insatisfação generalizada quanto aos resultados das eleições e à postura das Forças Armadas sobre a situação política. De acordo com a versão de Cid, Braga Netto teria solicitado sua saída do encontro para que fossem discutidas “medidas operacionais” que Cid, por sua proximidade com o ex-presidente, não poderia acompanhar. Contudo, o general nega essa versão dos fatos.
A segunda contradição refere-se a uma alegada entrega de dinheiro feita por Braga Netto a Mauro Cid. Este último afirmou que os valores foram destinados ao major De Oliveira, conhecido como “kid preto”, para financiar atos antidemocráticos, e que a entrega ocorreu em uma caixa de vinho no Palácio da Alvorada. A defesa de Braga Netto, no entanto, refuta essa versão, criando mais um ponto de tensão entre as depoentes.
No que diz respeito à acareação entre Anderson Torres e Freire Gomes, a defesa do ex-ministro contesta várias declarações do ex-comandante do Exército, apontando-as como repletas de contradições. Um dos principais pontos de disputa é a alegação de que Torres teria participado de uma reunião com o ex-presidente Jair bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas para discutir assuntos de natureza golpista. A defesa argumenta que outros comandantes que prestaram depoimento não corroboraram a existência dessa reunião, e tanto bolsonaro quanto Mauro Cid negaram que Torres estivesse presente em tal encontro.
Os advogados de Torres enfatizam que Freire Gomes não forneceu detalhes concretos sobre a suposta reunião, como data, local, formato ou identificação de outros participantes. O general apenas afirmou “lembrar” da presença de Torres em um encontro relacionado a temas antidemocráticos, o que, segundo os defensores, enfraquece a credibilidade de seu testemunho.
Esses eventos marcam um momento significativo no processo que investiga tentativas de desestabilização da ordem democrática e demonstram a complexidade das interações entre os diferentes réus e testemunhas. A expectativa é alta em relação ao que será revelado durante essas acareações, que podem ter um impacto substancial no desdobramento das investigações em curso.