**Negociações Comerciais entre EUA e UE: O Desafio da taxa de 10% nas Tarifas Recíprocas**
BRUXELAS – As autoridades europeias estão cada vez mais cientes de que a taxa de 10% sobre tarifas “recíprocas” provavelmente será a base de qualquer acordo comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia, conforme revelam fontes que estão acompanhando de perto as discussões. O presidente dos EUA, Donald trump, anunciou a implementação de tarifas abrangentes sobre seus parceiros comerciais, com o objetivo de reduzir o déficit comercial do país em relação à UE. O Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, já deixou claro que não há expectativa de que a taxa básica fique abaixo dos 10% para as tarifas que incidem sobre a maioria dos produtos exportados pela UE para os Estados Unidos.
Os negociadores europeus continuam buscando uma redução nessa taxa, mas a realidade das negociações se tornou mais complicada desde que os EUA começaram a lucrar com suas tarifas globais. Uma autoridade da UE expressou que a questão da taxa de 10% é delicada e que, embora haja pressão sobre os EUA para uma revisão, a atual situação econômica dos Estados Unidos, que está gerando receita significativa, torna as conversas mais desafiadoras. “Estamos tentando negociar, mas eles estão se beneficiando financeiramente”, comentou a fonte.
Ainda que a União Europeia não tenha aceitado formalmente a taxa de 10% como base para as tratativas, reconhece que alterar ou eliminar essa porcentagem será uma tarefa difícil. Um porta-voz da Comissão Europeia, responsável pelas negociações comerciais do bloco de 27 países, não respondeu aos pedidos de comentário, assim como o governo dos EUA.
Autoridades norte-americanas indicaram que não há intenção de se afastar da tarifa de 10%. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, mencionou em um podcast que a decisão de trump de aumentar as tarifas acabou incentivando uma maior disposição dos líderes europeus para encontrar uma solução negociada. Por outro lado, a UE tem sido clara ao afirmar que não aceitará uma taxa de dois dígitos como a acordada com o Reino Unido, que estabeleceu um acordo comercial limitado em maio, mantendo tarifas de 10% sobre as exportações britânicas, mas reduzindo taxas mais altas para produtos como aço e automóveis.
trump implementou tarifas de 50% sobre aço e alumínio e uma taxa de 25% sobre veículos, e a União Europeia está se esforçando para garantir um acordo antes do dia 9 de julho. Nesta data, as tarifas recíprocas sobre uma ampla gama de produtos poderão aumentar de 10% para até 50%, o que representa um risco significativo para as relações comerciais entre as duas potências. Com um superávit comercial anual de US$ 236 bilhões em 2024, a UE tem mais a perder com a imposição de tarifas do que o Reino Unido, que não faz mais parte do bloco e apresenta um déficit comercial com os EUA.
trump declarou recentemente que a União Europeia não está apresentando uma proposta de acordo justa. Enquanto isso, os EUA buscam incluir barreiras não tarifárias nas negociações, como impostos sobre serviços digitais, normas de sustentabilidade corporativa, vendas de gás natural liquefeito e regulamentos alimentares.
As tarifas implementadas desde abril por trump têm gerado incertezas e desafios para empresas em todo o mundo, especialmente nas montadoras europeias, que enfrentam dificuldades financeiras. A Mercedes-Benz retirou suas previsões de resultados, a Stellantis suspendeu suas estimativas de desempenho e a Volvo Cars cancelou suas projeções para os próximos dois anos. Um executivo do setor automotivo europeu observou que, embora as montadoras de veículos de luxo possam suportar uma tarifa de 10%, essa taxa seria muito mais difícil para as empresas que operam no mercado de massa.
Adicionalmente, trump anunciou que tarifas sobre produtos farmacêuticos devem ser implementadas em breve. Uma fonte do setor farmacêutico revelou que a Comissão Europeia está resistindo a tarifas específicas para o setor, embora tenha sugerido que a aceitação de uma tarifa básica de 10% poderia fornecer uma alavancagem nas negociações. No setor de bebidas, um representante indicou que uma taxa de 10% seria preferível a negociações prolongadas e incertas.
A falta de um acordo poderá ter um impacto negativo significativo no mercado, como ressaltou Rob van Gils, CEO da Hammerer Aluminium Industries. Ele afirmou que, independentemente do valor da tarifa, o importante é que haja um entendimento mútuo entre as partes. Um funcionário da UE complementou que uma tarifa básica de 10% “não comprometeria consideravelmente as posições competitivas, especialmente se todos os envolvidos forem tratados de maneira semelhante”. Assim, a continuidade das negociações é crucial para o futuro das relações comerciais entre EUA e UE.