O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) anunciou na última segunda-feira, 16 de junho, uma drástica redução em seu quadro de funcionários, que resultará no corte de 3,5 mil postos de trabalho, equivalendo a quase um terço de seus gastos com pessoal. Esta medida, motivada pela crescente escassez de recursos financeiros, levou a agência a reavaliar suas operações e a diminuir a escala de suas atividades globais.
O Acnur tem enfrentado desafios significativos em sua missão humanitária devido a cortes substanciais no financiamento, especialmente aqueles originados dos Estados Unidos. Em um momento em que a ajuda humanitária se torna cada vez mais vital, a revisão realizada pela agência revelou a necessidade urgente de ajustar seu quadro de contratações e suas despesas. Atualmente, o Acnur conta com aproximadamente 20 mil funcionários em regime de contrato, dentre os quais temporários e efetivos, e a redução de pessoal se torna uma medida necessária para enfrentar a crise de recursos.
Os cortes nos financiamentos têm uma origem clara: a política “America First” implementada pelo governo do ex-presidente Donald trump, que impactou não apenas o Acnur, mas diversas organizações de ajuda internacional. Durante sua administração, trump promoveu a diminuição substancial das doações americanas, que anteriormente representavam mais de 40% do total de contribuições ao Acnur. Em termos financeiros, estima-se que os Estados Unidos haviam aportado cerca de 2 bilhões de dólares anuais, o que equivale a quase 11 bilhões de reais.
Diante dessa realidade financeira desafiadora, Filippo Grandi, chefe do Acnur, enfatizou a necessidade de concentrar esforços nas operações que geram maior impacto para os refugiados. As medidas anunciadas incluem o fechamento e a redução de unidades da agência em diversas partes do mundo, além da implementação de um corte significativo de cerca de 50% nos postos de liderança em sua sede em Genebra e em escritórios regionais.
Infelizmente, esses cortes também afetam programas cruciais que oferecem assistência financeira a famílias vulneráveis, educação, saúde e acesso a água potável e saneamento, serviços essenciais para a sobrevivência de milhões de pessoas. O Acnur tem cooperado com diferentes organizações e países que acolhem refugiados para mitigar os danos e garantir que, sempre que possível, o apoio necessário continue chegando a quem mais precisa.
O cenário global de refugiados é alarmante. Estima-se que, até o final de 2025, o financiamento do Acnur permanecerá em níveis similares aos de uma década atrás, enquanto o número de indivíduos forçados a deixar suas casas quase dobrou, ascendendo a mais de 122 milhões. Essa crescente crise humanitária ressalta a importância do trabalho da agência e a urgência de recursos suficientes para atender às demandas.
“Embora enfrentemos medidas difíceis e uma redução significativa de pessoal, nossa dedicação aos direitos e ao bem-estar dos refugiados continua firme”, afirmou Grandi. Ele acrescentou que, mesmo diante da diminuição dos recursos e da capacidade operacional, o Acnur permanecerá comprometido em responder a emergências e buscar soluções para o retorno seguro das pessoas deslocadas.
A situação no mundo em desenvolvimento, especialmente no Sudão, que hoje abriga 14,3 milhões de pessoas deslocadas, mostra a gravidade do problema. Esse número supera os registros da Síria, Afeganistão e ucrânia. Em um contexto em que, de acordo com a agência, uma em cada 67 pessoas no planeta foi deslocada à força, a necessidade de apoio e financiamento adequados nunca foi tão premente.
Os desafios para o Acnur e para outras agências humanitárias são vastos, e a violência, a instabilidade política e os desastres naturais estão impulsionando cada vez mais pessoas a deixar suas casas em busca de segurança. A história da guerra civil síria, que começou em 2011, exemplifica o impacto dessas crises, forçando um número significativo de refugiados a buscar abrigo em nações vizinhas e além. O Acnur prossegue em sua missão, determinado a não ceder, mesmo em tempos de adversidade e incerteza.