A liderança do B-20, a plataforma empresarial que estabelece um diálogo com o G-20, entregará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira, 28, um documento abrangente contendo 24 recomendações de políticas públicas. Essas diretrizes visam impulsionar o debate durante a cúpula que reúne as principais economias globais. As sugestões apresentadas pelo setor privado ao governo são centradas na ideia de alinhar a agenda brasileira com as demandas globais, destacando a necessidade de unificação de critérios para o comércio internacional, levando em consideração a pegada de carbono dos produtos.
Os empresários enfatizam especialmente os temas de descarbonização, transição energética, digitalização e segurança alimentar, áreas nas quais o Brasil tem grande potencial para liderar as discussões. O documento defende a implementação de soluções inovadoras para reduzir as emissões, incluindo a criação de um mercado de crédito de carbono, investimentos em hidrogênio limpo e o fomento aos biocombustíveis, com vistas a estabelecer um futuro sustentável.
Na reunião com o presidente Lula, estarão presentes figuras de destaque como Dan Ioschpe, presidente da Raízen e vice-presidente da Fiesp, que exerce o papel de chair do B-20 Brasil, e Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que coordena as atividades do B-20 neste ano. A CNI, com sua experiência e liderança, é um elo fundamental na articulação entre o setor empresarial e as diretrizes do G-20.
Dentro do documento, no que diz respeito ao comércio e investimento, é destacado a necessidade urgente de revisão das restrições comerciais que foram aplicadas por nações do G-20 nos últimos três anos. Além disso, sugere a promoção de metodologias respeitadas internacionalmente para calcular e prestar contas sobre a pegada de carbono dos produtos, visando estabelecer boas práticas regulatórias e taxonomias para instituições que desejam promover a sustentabilidade ambiental.
É importante destacar que as economias do G-20 representam 75% do comércio global. Assim, um dos focos das discussões no fórum será como conciliar a sustentabilidade com as normas comerciais. A crescente criação de barreiras comerciais baseadas em diferentes parâmetros ambientais, que é frequentemente chamada de protecionismo ambiental, preocupa o setor privado, pois pode limitar o crescimento e a colaboração internacional.
Desde a adoção do Acordo de Paris, até 2022, mais de mil leis climáticas foram implementadas, incluindo a legislação aprovada pelo Parlamento Europeu no ano passado, que proíbe a venda de produtos originários de áreas desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 em todos os países da União Europeia. Essa legislação evidencia a crescente importância de critérios ambientais no comércio internacional.
As propostas foram formuladas ao longo dos últimos meses por sete grupos temáticos, liderados por proeminentes empresários brasileiros, incluindo representantes de grandes empresas como Raízen, Embraer, JBS, entre outras, somando mais de 1,2 mil participantes do setor privado de mais de 40 países. O B-20 também conta com dois conselhos consultivos, um nacional e um internacional, que incluem renomadas personalidades do mundo dos negócios.
Os membros do B-20 acreditam que o G-20 é uma excelente oportunidade para o Brasil enfatizar temas críticos de interesse nacional, como a regulação do mercado de carbono e a criação de uma cadeia de valor que priorize a sustentabilidade. No entanto, vale ressaltar que algumas questões que o governo mantém em sua agenda, como a taxação dos super-ricos e a reforma de instituições internacionais, não foram mencionadas nas propostas apresentadas pela iniciativa privada.
O governo Lula delineou três eixos principais para suas abordagens no G-20: combate à fome e à pobreza, desenvolvimento sustentável e transição energética, além de reformas nos organismos de governança internacional. No que diz respeito ao combate à fome, o setor privado incentivará Lula a enxergar o crescimento econômico como um caminho crucial para a inclusão social e a erradicação da fome.
A missão do B-20 é consolidar a visão do setor privado, para que sua influência se faça presente nas discussões do G-20, que neste ano ocorrerá no Brasil. As propostas serão debatidas em um evento previsto para os dias 24 e 25 de outubro, em São Paulo, com a expectativa de receber mais de mil participantes de diferentes países membros.
Na seção dedicada à transição energética e às mudanças climáticas, os empresários destacam a importância de elaborar “políticas, regulações e incentivos” para alcançar uma capacidade energética renovável que seja três vezes maior até 2030, expandir a infraestrutura elétrica e acelerar a eletrificação em larga escala. Além disso, o documento menciona a necessidade de explorar a bioenergia e considerar o uso de biocombustíveis no esforço de descarbonização.
Dentro da proposta de financiamento climático, o setor privado sugere uma revisão do papel do financiamento público para otimizar a alocação de capital em iniciativas sustentáveis, permitindo assim que o capital privado seja mobilizado para investimentos de maior escala. Questões relacionadas ao capital regulatório e às agências de classificação de risco também são abordadas, a fim de facilitar o financiamento climático e promover um ambiente mais propício para esses investimentos.
Em relação à transformação digital, o B-20 sugere fortalecer a colaboração internacional e estabelecer um arcabouço de gestão de risco para o uso responsável da inteligência artificial. Também é sublinhada a necessidade de aumentar a transparência e a comunicação dentro dos sistemas de inteligência artificial, garantindo que a inovação respeite princípios éticos.
Adicionalmente, o capítulo dedicado à diversidade e inclusão propõe a criação de comitês e alianças entre o setor público e privado, com o objetivo de garantir que o desenvolvimento da inteligência artificial é livre de vieses, enquanto se incentiva a diversidade na formação de profissionais da área.
Conforme publicado pela assessoria de imprensa do B-20, o chair Dan Ioschpe ressaltou que as recomendações do B-20 são essenciais para moldar a discussão no G-20, que é considerado o principal fórum de cooperação econômica internacional. Ricardo Alban, da CNI, expressou sua confiança de que as propostas serão implementadas, evidenciando que o B-20 focou em sugestões de alto impacto que possam ser realmente viáveis.
A Cúpula do G-20 inclui as 19 economias mais relevantes do planeta, a União Europeia e, a partir deste ano, a União Africana, que desempenhará um papel fundamental no contexto global. Composta por nações como Brasil, Estados Unidos, China, entre outras, o grupo responde por aproximadamente 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e abriga dois terços da população global, mostrando a importância de um diálogo efetivo sobre as questões que serão discutidas na cúpula.